CONSTITUIÇÃO DOGMÁTICA
LUMEN GENTIUM
SOBRE A IGREJA
CAPÍTULO I
O MISTÉRIO DA IGREJA
Objecto da Constituição: a Igreja como sacramento
1. A luz dos povos é Cristo: por isso, este sagrado
Concílio, reunido no Espírito Santo, deseja ardentemente iluminar com a
Sua luz, que resplandece no rosto da Igreja, todos os homens, anunciando
o Evangelho a toda a criatura (cfr. Mc. 16,15). Mas porque a Igreja, em
Cristo, é como que o sacramento, ou sinal, e o instrumento da íntima
união com Deus e da unidade de todo o género humano, pretende ela, na
sequência dos anteriores Concílios, pôr de manifesto com maior
insistência, aos fiéis e a todo o mundo, a sua natureza e missão
universal. E as condições do nosso tempo tornam ainda mais urgentes este
dever da Igreja, para que deste modo os homens todos, hoje mais
estreitamente ligados uns aos outros, pelos diversos laços sociais,
técnicos e culturais, alcancem também a plena unidade em Cristo.
A vontade salvífica do Pai
2. O Eterno Pai, pelo libérrimo e insondável desígnio da
Sua sabedoria e bondade, criou o universo, decidiu elevar os homens à
participação da vida divina e não os abandonou, uma vez caídos em Adão,
antes, em atenção a Cristo Redentor «que
é a imagem de Deus invisível, primogénito de toda a criação» (Col. 1,15)
sempre lhes concedeu os auxílios para se salvarem. Aos eleitos, o Pai,
antes de todos os séculos os «discerniu
e predestinou para reproduzirem a imagem de Seu Filho, a fim de que Ele
seja o primogénito de uma multidão de irmãos» (Rom. 8,29). E, aos que
crêem em Cristo, decidiu chamá-los à santa Igreja, a qual, prefigurada
já desde o princípio do mundo e admiràvelmente preparada na história do
povo de Israel e na Antiga Aliança(1), foi constituída no fim dos tempos
e manifestada pela efusão do Espírito, e será gloriosamente consumada no
fim dos séculos. Então, como se lê nos Santos Padres, todos os justos
depois de Adão, «desde o justo Abel até ao último eleito» (2), se
reunirão em Igreja universal junto do Pai.
Missão e obra do Filho: fundação da Igreja
3. Veio pois o Filho, enviado pelo Pai, que n'Ele nos
elegeu antes de criar o mundo, e nos predestinou para sermos seus filhos
de adopção, porque lhe aprouve reunir n'Ele todas as coisas (cfr. Ef. 1,
4-5. 10). Por isso, Cristo, a fim de cumprir a vontade do Pai, deu
começo na terra ao Reino dos Céus e revelou-nos o seu mistério,
realizando, com a própria obediência, a redenção. A Igreja, ou seja, o
Reino de Cristo já presente em mistério, cresce visivelmente no mundo
pelo poder de Deus. Tal começo e crescimento exprimem-nos o sangue e a
água que manaram do lado aberto de Jesus crucificado (cfr. Jo. 19,34), e
preanunciam-nos as palavras do Senhor acerca da Sua morte na cruz:
«Quando Eu for elevado acima da terra, atrairei todos a mim» (Jo. 12,32
gr.). Sempre que no altar se celebra o sacrifício da cruz, na qual
«Cristo, nossa Páscoa, foi imolado» (1 Cor. 5,7), realiza-se também a
obra da nossa redenção. Pelo sacramento do pão eucarístico, ao mesmo
tempo é representada e se realiza a unidade dos fiéis, que constituem um
só corpo em Cristo (cfr. 1 Cor. 10,17). Todos os homens são chamados a
esta união com Cristo, luz do mundo, do qual vimos, por quem vivemos, e
para o qual caminhamos.
O Espírito santificador e vivificador da Igreja
4. Consumada a obra que o Pai confiou ao Filho para Ele
cumprir na terra (cfr. Jo. 17,4), foi enviado o Espírito Santo no dia de
Pentecostes, para que santificasse continuamente a Igreja e deste modo
os fiéis tivessem acesso ao Pai, por Cristo, num só Espírito (cfr. Ef.
2,18). Ele é o Espírito de vida, ou a fonte de água que jorra para a
vida eterna (cfr. Jo. 4,14; 7, 38-39); por quem o Pai vivifica os homens
mortos pelo pecado, até que ressuscite em Cristo os seus corpos mortais
(cfr. Rom. 8, 10-11). O Espírito habita na Igreja e nos corações dos
fiéis, como num templo (cfr. 1 Cor. 3,16; 6,19), e dentro deles ora e dá
testemunho da adopção de filhos (cfr. Gál. 4,6; Rom. 8, 15-16. 26). A
Igreja, que Ele conduz à verdade total (cfr. Jo. 16,13) e unifica na
comunhão e no ministério, enriquece-a Ele e guia-a com diversos dons
hierárquicos e carismáticos e adorna-a com os seus frutos (cfr. Ef. 4,
11-12; 1 Cor. 12,4; Gál. 5,22). Pela força do Evangelho rejuvenesce a
Igreja e renova-a continuamente e leva-a à união perfeita com o seu
Esposo (3). Porque o Espírito e a Esposa dizem ao Senhor Jesus: «Vem»
(cfr. Apoc. 22,17)!
Assim a Igreja toda aparece como «um povo unido pela
unidade do Pai e do Filho e do Espírito Santo (4).
O Reino de Deus
5. O mistério da santa Igreja manifesta-se na sua
fundação. O Senhor Jesus deu início à Sua Igreja pregando a boa nova do
advento do Reino de Deus prometido desde há séculos nas Escrituras:
«cumpriu-se o tempo, o Reino de Deus está próximo» (Mc. 1,15; cfr. Mt.
4,17). Este Reino manifesta-se na palavra, nas obras e na presença de
Cristo. A palavra do Senhor compara-se à semente lançada ao campo (Mc.
4,14): aqueles que a ouvem com fé e entram a fazer parte do pequeno
rebanho de Cristo (Luc. 12,32), já receberam o Reino; depois, por força
própria, a semente germina e cresce até ao tempo da messe (cfr. Mc. 4,
26-29). Também os milagres de Jesus comprovam que já chegou à terra o
Reino: «Se lanço fora os demónios com o poder de Deus, é que chegou a
vós o Reino de Deus» (Luc. 11,20; cfr. Mt. 12,28). Mas este Reino
manifesta-se sobretudo na própria pessoa de Cristo, Filho de Deus e
Filho do homem, que veio «para servir e dar a sua vida em redenção por
muitos» (Mt. 10,45).
E quando Jesus, tendo sofrido pelos homens a morte da
cruz, ressuscitou, apareceu como Senhor e Cristo e sacerdote eterno
(cfr. Act. 2,36; Hebr. 5,6; 7, 17-21) e derramou sobre os discípulos o
Espírito prometido pelo Pai (cfr. Act. 2,33). Pelo que a Igreja,
enriquecida com os dons do seu fundador e guardando fielmente os seus
preceitos de caridade, de humildade e de abnegação, recebe a missão de
anunciar e instaurar o Reino de Cristo e de Deus em todos os povos e
constitui o germe e o princípio deste mesmo Reino na terra. Enquanto vai
crescendo, suspira pela consumação do Reino e espera e deseja juntar-se
ao seu Rei na glória.
As figuras da Igreja
6. Assim como, no Antigo Testamento, a revelação do
Reino é muitas vezes apresentada em imagens, também agora a natureza
íntima da Igreja nos é dada a conhecer por diversas imagens tiradas quer
da vida pastoril ou agrícola, quer da construção ou também da família e
matrimónio, imagens que já se esboçam nos livros dos Profetas.
Assim a Igreja é o redil, cuja única porta e necessário
pastor é Cristo (Jo. 10, 1-10). E também o rebanho do qual o próprio
Deus predisse que seria o pastor (cfr. Is. 40,11; Ez. 34,11 ss.), e
cujas ovelhas, ainda que governadas por pastores humanos, são contudo
guiadas e alimentadas sem cessar pelo próprio Cristo, bom pastor e
príncipe dos pastores (cfr. Jo. 10,11; 1 Ped. 5,4), o qual deu a vida
pelas suas ovelhas (cfr. Jo. 10, 11-15).
A Igreja é a agricultura ou o campo de Deus (1 Cor.
3,9). Nesse campo cresce a oliveira antiga de que os patriarcas foram a
raiz santa e na qual se realizou e realizará a reconciliação de judeus e
gentios (Rom. 11, 13-26). Ela foi plantada pelo celeste agricultor como
uma vinha eleita (Mt. 21, 33-43 par.; Is. 5,1 ss.). A verdadeira videira
é Cristo que dá vida e fecundidade aos sarmentos, isto é, a nós que pela
Igreja permanecemos n'Ele, sem o qual nada podemos fazer (Jo. 15, 1-5).
A Igreja é também muitas vezes chamada construção de
Deus (1 Cor. 3,9). O próprio Senhor se comparou à pedra que os
construtores rejeitaram e se tornou pedra angular (Mt. 21,42 par.; Act.
4,11; 1 Ped. 2,7; Salm. 117,22). Sobre esse fundamento é a Igreja
construída pelos Apóstolos (cfr. 1 Cor. 3,11), e d'Ele recebe firmeza e
coesão. Esta construção recebe vários nomes: casa de Deus (1 Tim. 3,15),
na qual habita a Sua «família»; habitação de Deus no Espírito (cfr. Ef.
2, 19-22); tabernáculo de Deus com os homens (Apoc. 21,3); e sobretudo
«templo» santo, o qual, representado pelos santuários de pedra e louvado
pelos Santos Padres, é com razão comparado, na Liturgia, à cidade santa,
a nova Jerusalém (5). Nela, com efeito, somos edificados cá na terra
como pedras vivas (cfr. 1 Ped. 2,5). Esta cidade, S. João contemplou-a
«descendo do céu, de Deus, na renovação do mundo, como esposa adornada
para ir ao encontro do esposo» (Apoc. 21,1 ss.).
A Igreja, chamada «Jerusalém do alto» e «nossa mãe»
(Gál. 4,26; cfr. Apoc. 12,17), é também descrita como esposa imaculada
do Cordeiro imaculado (Apoc. 19,7; 21,2. 9; 22,17), a qual Cristo gamou
e por quem Se entregou, para a santificar» (Ef. 5, 25-26), uniu a Si por
um indissolúvel vínculo, e sem cessar «alimenta e conserva» (Ef. 5,29),
a qual, purificada, quis unida a Si e submissa no amor e fidelidade
(cfr. Ef. 5,24), cumulando-a, por fim, eternamente, de bens celestes;
para que entendamos o amor de Deus e de Cristo por nós, o qual
ultrapassa toda a compreensão (cfr. Ef. 3,19). Enquanto, na terra, a
Igreja peregrina longe do Senhor (cfr. 2 Cor. 5,6), tem-se por exilada,
buscando e saboreando as coisas do alto, onde Cristo está sentado à
direita de Deus, e onde a vida da Igreja está escondida com Cristo em
Deus, até que apareça com seu esposo na glória (Cfr. Col. 3, 1-4).
A Igreja, Corpo místico de Cristo
7. O filho de Deus, vencendo, na natureza humana a Si
unida, a morte, com a Sua morte e ressurreição, remiu o homem e
transformou-o em nova criatura (cfr. Gál. 6,15; 2 Cor. 5,17). Pois,
comunicando o Seu Espírito, fez misteriosamente de todos os Seus irmãos,
chamados de entre todos os povos, como que o Seu Corpo.
É nesse corpo que a vida de Cristo se difunde nos que
crêem, unidos de modo misterioso e real, por meio dos sacramentos, a
Cristo padecente e glorioso(6). Com efeito, pelo Baptismo somos
assimilados a Cristo; «todos nós
fomos baptizados no mesmo Espírito, para formarmos um só corpo» (1 Cor.
12,13). Por este rito sagrado é representada e realizada a união com a
morte e ressurreição de Cristo: ; «fomos
sepultados, pois, com Ele, por meio do Baptismo, na morte»; se, porém, ; «nos tornámos com Ele um mesmo ser
orgânico por morte semelhante à Sua, por semelhante ressurreição o
seremos também (Rom. 6, 4-5). Ao participar realmente do corpo do
Senhor, na fracção do pão eucarístico, somos elevados à comunhão com Ele
e entre nós. ; «Porque há um só pão,
nós, que somos muitos, formamos um só corpo, visto participarmos todos
do único pão» (1 Cor. 10,17). E deste modo nos tornamos todos membros
desse corpo (cfr. 1 Cor. 12,27), sendo individualmente membros uns dos
outros» (Rom. 12,5).
E assim como todos os membros do corpo humano, apesar de
serem muitos, formam no entanto um só corpo, assim também os fiéis em
Cristo (cfr. 1 Cor. 12,12). Também na edificação do Corpo de Cristo
existe diversidade de membros e de funções. É um mesmo Espírito que
distribui os seus vários dons segundo a sua riqueza e as necessidades
dos ministérios para utilidade da Igreja (cfr. 1 Cor. 12, 1-11). Entre
estes dons, sobressai a graça dos Apóstolos, a cuja autoridade o mesmo
Espírito submeteu também os carismáticos (cfr 1 Cor. 14). O mesmo
Espírito, unificando o corpo por si e pela sua força e pela coesão
interna dos membros, produz e promove a caridade entre os fiéis. Daí
que, se algum membro padece, todos os membros sofrem juntamente; e se
algum membro recebe honras, todos se, alegram (cfr. 1 Cor. 12,26).
A cabeça deste corpo é Cristo. Ele é a imagem do Deus
invisível e n 'Ele foram criadas todas as coisas. Ele existe antes de
todas as coisas e todas n'Ele subsistem. Ele é a cabeça do corpo que a
Igreja é. É o princípio, o primogénito de entre os mortos, de modo que
em todas as coisas tenha o primado (cfr. Col. 1, 15-18). Pela grandeza
do Seu poder domina em todas as coisas celestes e terrestres e, devido à
Sua supereminente perfeição e acção, enche todo o corpo das riquezas da
Sua glória (cfr. Ef. 1, 18-23) (7).
Todos os membros se devem conformar com Ele, até que
Cristo se forme neles (cfr. Gál. 4,19). Por isso, somos assumidos nos
mistérios da Sua vida, configurados com Ele, com Ele mortos e
ressuscitados, até que reinemos com Ele (cfr. Fil. 3,21; 2 Tim. 2,11;
Ef. 2,6; Col. 2,12; etc.). Ainda peregrinos na terra, seguindo as Suas
pegadas na tribulação e na perseguição, associamo-nos nos seus
sofrimentos como o corpo à cabeça, sofrendo com Ele, para com Ele sermos
glorificados (cfr. Rom. 8,17).
É por Ele que «o
corpo inteiro, alimentado e coeso em suas junturas e ligamentos, se
desenvolve com o crescimento dado por Deus» (Col. 2,19). Ele mesmo
distribui continuamente, no Seu corpo que é a Igreja, os dons dos
diversos ministérios, com os quais, graças ao Seu poder, nos prestamos
mutuamente serviços em ordem à salvação, de maneira que, professando a
verdade na caridade, cresçamos em tudo para Aquele que é a nossa cabeça
(cfr. Ef. 4, 11-16 gr.).
E para que sem cessar nos renovemos n'Ele (cfr. Ef.
4,23), deu-nos do Seu Espírito, o qual, sendo um e o mesmo na cabeça e
nos membros, unifica e move o corpo inteiro, a ponto de os Santos Padres
compararem a Sua acção à que o princípio vital, ou alma, desempenha no
corpo humano(8).
Cristo ama a Igreja como esposa, fazendo-se modelo do
homem que ama sua mulher como o próprio corpo (cfr. Ef. 5, 25-28); e a
Igreja, por sua vez, é sujeita à sua cabeça (ib. 23-24). «Porque n'Ele habita corporalmente
toda a plenitude da natureza divina» (Col. 2,9), enche a Igreja, que é o
Seu corpo e plenitude, com os dons divinos (cfr. Ef. 1, 22-23), para que
ela se dilate e alcance a plenitude de Deus (cfr. Ef. 3,19).
A Igreja, sociedade visível e espiritual
8. Cristo, mediador único, estabelece e continuamente sustenta sobre
a terra, como um todo visível, a Sua santa Igreja, comunidade de fé,
esperança e amor, por meio da qual difunde em todos a verdade e a graça
(9). Porém, a sociedade organizada hierarquicamente, e o Corpo místico
de Cristo, o agrupamento visível e a comunidade espiritual, a Igreja
terrestre e a Igreja ornada com os dons celestes não se devem considerar
como duas entidades, mas como uma única realidade complexa, formada pelo
duplo elemento humano e divino (10). Apresenta por esta razão uma grande
analogia com ó mistério do Verbo encarnado. Pois, assim como a natureza
assumida serve ao Verbo divino de instrumento vivo de salvação, a Ele
indissoluvelmente unido, de modo semelhante a estrutura social da Igreja
serve ao Espírito de Cristo, que a vivifica, para o crescimento do corpo
(cfr. Ef. 4,16) (11).
Esta é a única Igreja de Cristo, que no Credo confessamos ser una,
santa, católica e apostólica (12); depois da ressurreição, o nosso
Salvador entregou-a a Pedro para que a apascentasse (Jo. 21,17),
confiando também a ele e aos demais Apóstolos a sua difusão e governo
(cfr. Mt. 28,18 ss.), e erigindo-a para sempre em «coluna e fundamento
da verdade» (I Tim. 3,5). Esta Igreja, constituída e organizada neste
mundo como sociedade, é na Igreja católica, governada pelo sucessor de
Pedro e pelos Bispos em união com ele (13), que se encontra, embora,
fora da sua comunidade, se encontrem muitos elementos de santificação e
de verdade, os quais, por serem dons pertencentes à Igreja de Cristo,
impelem para a unidade católica.
Mas, assim como Cristo realizou a obra da redenção na pobreza e na
perseguição, assim a Igreja é chamada a seguir pelo mesmo caminho para
comunicar aos homens os frutos da salvação. Cristo Jesus «que era de
condição divina... despojou-se de si próprio tomando a condição de
escravo (Fil. 2, 6-7) e por nós, «sendo rico, fez-se pobre»
(2 Cor. 8,9): assim também a Igreja, embora necessite dos meios humanos
para o prosseguimento da sua missão, não foi constituída para alcançar a
glória terrestre, mas para divulgar a humildade e abnegação, também com
o seu exemplo. Cristo foi enviado pelo Pai « a evangelizar os pobres...
a sarar os contritos de coração» (Luc. 4,18), «a procurar e salvar o que
perecera» (Luc. 19,10). De igual modo, a Igreja abraça com amor todos os
afligidos pela enfermidade humana; mais ainda, reconhece nos pobres e
nos que sofrem a imagem do seu fundador pobre e sofredor, procura
aliviar as suas necessidades, e intenta servir neles a Cristo. Enquanto
Cristo «santo, inocente, imaculado»
(Hebr. 7,26), não conheceu o pecado (cfr. 2 Cor. 5,21), mas veio apenas
expiar os pecados do povo (Hebr. 2,17), a Igreja, contendo pecadores no
seu próprio seio, simultaneamente santa e sempre necessitada de
purificação, exercita continuamente a penitência e a renovação.
A Igreja «prossegue a sua peregrinação no meio das perseguições do
mundo e das consolações de Deus» (14), anunciando a cruz e a morte do
Senhor até que Ele venha (cfr. Cor. 11,26). Mas é robustecida pela força
do Senhor ressuscitado, de modo a vencer, pela paciência e pela
caridade, as suas aflições e dificuldades tanto internas como externas,
e a revelar, velada mas fielmente, o seu mistério, até que por fim se
manifeste em plena luz.
CAPÍTULO II
O POVO DE DEUS
A Nova Aliança com o novo Povo de Deus
9. Em todos os tempos e em todas as nações foi agradável
a Deus aquele que O teme e obra justamente (cfr. Act. 10,35). Contudo,
aprouve a Deus salvar e santificar os homens, não individualmente,
excluída qualquer ligação entre eles, mas constituindo-os em povo que O
conhecesse na verdade e O servisse santamente. Escolheu, por isso, a
nação israelita para Seu povo. Com ele estabeleceu uma aliança; a ele
instruiu gradualmente, manifestando-Se a Si mesmo e ao desígnio da
própria vontade na sua história, e santificando-o para Si. Mas todas
estas coisas aconteceram como preparação e figura da nova e perfeita
Aliança que em Cristo havia de ser estabelecida e da revelação mais
completa que seria transmitida pelo próprio Verbo de Deus feito carne.
Eis que virão dias, diz o Senhor, em que estabelecerei com a casa de
Israel e a casa de Judá uma nova aliança... Porei a minha lei nas suas
entranhas e a escreverei nos seus corações e serei o seu Deus e eles
serão o meu povo... Todos me conhecerão desde o mais pequeno ao maior,
diz o Senhor (Jer. 31, 31-34). Esta nova aliança instituiu-a Cristo, o
novo testamento no Seu sangue (cfr. 1 Cor. 11,25), chamando o Seu povo
de entre os judeus e os gentios, para formar um todo, não segundo a
carne mas no Espírito e tornar-se o Povo de Deus. Com efeito, os que
crêem em Cristo, regenerados não pela força de germe corruptível mas
incorruptível por meio da Palavra de Deus vivo (cfr. 1 Ped. 1,23), não
pela virtude da carne, mas pela água e pelo Espírito Santo (cfr. Jo. 3,
5-6), são finalmente constituídos em «raça escolhida, sacerdócio real,
nação santa, povo conquistado... que outrora não era povo, mas agora é
povo de Deus» (1 Ped. 2, 9-10).
Este povo messiânico tem por cabeça Cristo, «o qual foi entregue por causa das
nossas faltas e ressuscitado por causa da nossa justificação» (Rom.
4,25) e, tendo agora alcançado um nome superior a todo o nome, reina
glorioso nos céus. E condição deste povo a dignidade e a liberdade dos
filhos de Deus, em cujos corações o Espírito Santo habita como num
templo. A sua lei é o novo mandamento, o de amar assim como o próprio
Cristo nos amou (cfr. Jo. 13,34). Por último, tem por fim o Reino de
Deus, o qual, começado na terra pelo próprio Deus, se deve desenvolver
até ser também por ele consumado no fim dos séculos, quando Cristo,
nossa vida, aparecer (cfr. Col. 3,4) e «a própria criação for liberta do
domínio da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de Deus»
(Rom. 8,21). Por isso é que este povo messiânico, ainda que não abranja
de facto todos os homens, e não poucas vezes apareça como um pequeno
rebanho, é, contudo, para todo o género humano o mais firme germe de
unidade, de esperança e de salvação. Estabelecido por Cristo como
comunhão de vida, de caridade e de verdade, é também por Ele assumido
como instrumento de redenção universal e enviado a toda a parte como luz
do mundo e sal da terra (cfr. Mt. 5, 13-16).
Mas, assim como Israel segundo a carne, que peregrinava
no deserto, é já chamado Igreja de Deus (cfr. 2 Esdr. 13,1; Num. 20,4;
Deut. 23,1 ss.), assim o novo Israel, que ainda caminha no tempo
presente e se dirige para a futura e perene cidade (cfr. Hebr. 13-14),
se chama também Igreja de Cristo (cfr. Mt. 16,18), pois que Ele a
adquiriu com o Seu próprio sangue (cfr. Act. 20,28), encheu-a com o Seu
espírito e dotou-a dos meios convenientes para a unidade visível e
social. Aos que se voltam com fé para Cristo, autor de salvação e
princípio de unidade e de paz, Deus chamou-os e constituiu-os em Igreja,
a fim de que ela seja para todos e cada um sacramento visível desta
unidade salutar (15). Destinada a estender-se a todas as regiões, ela
entra na história dos homens, ao mesmo tempo que transcende os tempos e
as fronteiras dos povos. Caminhando por meio de tentações e tribulações,
a Igreja é confortada pela força da graça de Deus que lhe foi prometida
pelo Senhor para que não se afaste da perfeita fidelidade por causa da
fraqueza da carne, mas permaneça digna esposa do seu Senhor, e, sob a
acção do Espírito Santo, não cesse de se renovar até, pela cruz, chegar
à luz que não conhece ocaso.
O sacerdócio comum e o sacerdócio ministerial
10. Cristo Nosso Senhor, Pontífice escolhido de entre os
homens (cfr. Hebr. 5, 1-5), fez do novo povo um «reino sacerdotal para
seu Deus e Pai» (Apor. 1,6; cfr. 5, 9-10). Na verdade, os baptizados,
pela regeneração e pela unção do Espírito Santo, são consagrados para
serem casa espiritual, sacerdócio santo, para que, por meio de todas as
obras próprias do cristão, ofereçam oblações espirituais e anunciem os
louvores daquele que das trevas os chamou à sua admirável luz (cfr. 1
Ped. 2, 4-10). Por isso, todos os discípulos de Cristo, perseverando na
oração e louvando a Deus (cfr. Act., 2, 42-47), ofereçam-se a si mesmos
como hóstias vivas, santas, agradáveis a Deus (cfr. Roma 12,1), dêem.
testemunho de Cristo em toda a parte e àqueles que lha pedirem dêem
razão da esperança da vida eterna que neles habita (cfr. 1 Ped. 3,15).
.O sacerdócio comum dos fiéis e o sacerdócio ministerial ou hierárquico,
embora se diferenciem essencialmente e não apenas em grau, ordenam-se
mutuamente um ao outro; pois um e outro participam, a seu modo, do único
sacerdócio de Cristo (16). Com efeito, o sacerdote ministerial, pelo seu
poder sagrado, forma e conduz o povo sacerdotal, realiza o sacrifício
eucarístico fazendo as vezes de Cristo e oferece-o a Deus em nome de
todo o povo; os fiéis, por sua parte, concorrem para a oblação da
Eucaristia em virtude do seu sacerdócio real (17), que eles exercem na
recepção dos sacramentos, na oração e acção de graças, no testemunho da
santidade de vida, na abnegação e na caridade operosa.
O exercício do sacerdócio comum nos sacramentos
11. A índole sagrada e, orgânica da comunidade
sacerdotal efectiva-se pelos sacramentos e pelas virtudes. Os fiéis,
incorporados na Igreja pelo Baptismo, são destinados pelo carácter
baptismal ao culto da religião cristã e, regenerados para filhos de
Deus, devem confessar diante dos homens a fé que de Deus receberam por
meio da Igreja (18). Pelo sacramento da Confirmação, são mais
perfeitamente vinculados à Igreja, enriquecidos com uma força especial
do Espírito Santo e deste modo ficam obrigados a difundir e defender a
fé por palavras e obras como verdadeiras testemunhas de Cristo (19).
Pela participação no sacrifício eucarístico de Cristo, fonte e centro de
toda a vida cristã, oferecem a Deus a vítima divina e a si mesmos
juntamente com ela (20); assim, quer pela oblação quer pela sagrada
comunhão, não indiscriminadamente mas cada um a seu modo, todos tomam
parte na acção litúrgica. Além disso, alimentados pelo corpo de Cristo
na Eucaristia, manifestam visivelmente a unidade do Povo de Deus, que
neste augustíssimo sacramento é perfeitamente significada e
admiravelmente realizada.
Aqueles que se aproximam do sacramento da Penitência,
obtêm da misericórdia de Deus o perdão da ofensa a Ele feita e ao mesmo
tempo reconciliam-se com a Igreja, que tinham ferido com o seu pecado, a
qual, pela caridade, exemplo e oração, trabalha pela sua conversão. Pela
santa Unção dos enfermos e pela oração dos presbíteros, toda a Igreja
encomenda os doentes ao Senhor padecente e glorificado para que os salve
(cfr. Tg. 5, 14-16); mais ainda, exorta-os a que, associando-se
livremente à Paixão e morte de Cristo (cfr. Rom. 8,17; Col. 1,24; 2 Tim.
11,12; 1 Ped. 4,13), concorram para o bem do Povo de Deus. Por sua vez,
aqueles de entre os fiéis que são assinalados com a sagrada Ordem, ficam
constituídos em nome de Cristo para apascentar a Igreja com a palavra e
graça de Deus. Finalmente, os cônjuges cristãos, em virtude do
sacramento do Matrimónio, com que significam e. participam o mistério da
unidade do amor fecundo entre Cristo e a Igreja (cfr. Ef. 5,32),
auxiliam-se mutuamente para a santidade, pela vida conjugal e pela
procriação e educação dos filhos, e têm assim, no seu estado de vida e
na sua ordem, um dom próprio no Povo de Deus (cfr. 1 Cor. 7,7) (21)
Desta união origina-se a família, na qual nascem novos cidadãos da
sociedade humana os quais, para perpetuar o Povo de Deus através dos
tempos, se tornam filhos de Deus pela graça do Espírito Santo, no
Baptismo. Na família, como numa igreja doméstica, devem os pais, pela
palavra e pelo exemplo, ser para os filhos os primeiros arautos da fé e
favorecer a vocação própria de cada um, especialmente a vocação sagrada.
Munidos de tantos e tão grandes meios de salvação, todos
os fiéis, seja qual for a sua condição ou estado, são chamados pelo
Senhor à perfeição do Pai, cada um por seu caminho.
O sentido da fé e dos carismas no povo cristão
12. O Povo santo de Deus participa também da função
profética de Cristo, difundindo o seu testemunho vivo, sobretudo pela
vida de fé e de caridade oferecendo a Deus o sacrifício de louvor, fruto
dos lábios que confessam o Seu nome (cfr. Hebr. 13,15). A totalidade dos
fiéis que receberam a unção do Santo (cfr. Jo. 2, 20 e 27), não pode
enganar-se na fé; e esta sua propriedade peculiar manifesta-se por meio
do sentir sobrenatural da fé do povo todo, quando este,
«desde os Bispos até ao último dos
leigos fiéis» (22), manifesta consenso universal em matéria de fé e
costumes. Com este sentido da fé, que se desperta e sustenta pela acção
do Espírito de verdade, o Povo de Deus, sob a direcção do sagrado
magistério que fielmente acata, já não recebe simples palavra de homens
mas a verdadeira palavra de Deus (cfr. 1 Tess. 2,13), adere
indefectivelmente à fé uma vez confiada aos santos (cfr. Jud. 3),
penetra-a mais profundamente com juízo acertado e aplica-a mais
totalmente na vida.
Além disso, este mesmo Espírito Santo não só santifica e
conduz o Povo de Deus por meio dos sacramentos e ministérios e o adorna
com virtudes, mas «distribuindo a
cada um os seus dons como lhe apraz» (1 Cor. 12,11), distribui também
graças especiais entre os fiéis de todas as classes, as quais os tornam
aptos e dispostos a tomar diversas obras e encargos, proveitosos para a
renovação e cada vez mais ampla edificação da Igreja, segundo aquelas
palavras: ; «a cada qual se concede
a manifestação do Espírito em ordem ao bem comum» (1 Cor. 12,7). Estes
carismas, quer sejam os mais elevados, quer também os mais simples e
comuns, devem ser recebidos com acção de graças e consolação, por serem
muito acomodados e úteis às necessidades da Igreja. Não se devem porém,
pedir temerariamente, os dons extraordinários nem deles se devem esperar
com presunção os frutos das obras apostólicas; e o juízo acerca da sua
autenticidade e recto uso, pertence àqueles que presidem na Igreja e aos
quais compete de modo especial não extinguir o Espírito mas julgar tudo
e conservar o que é bom (cfr. 1 Tess. 5, 12. 19-21).
Universalidade e catolicidade do único Povo de
Deus
13. Ao novo Povo de Deus todos os homens são chamados.
Por isso, este Povo, permanecendo uno e único, deve estender-se a todo o
mundo e por todos os séculos, para se cumprir o desígnio da vontade de
Deus que, no princípio, criou uma só natureza humana e resolveu juntar
em unidade todos os seus filhos que estavam dispersos (cfr. Jo. 11,52).
Foi para isto que Deus enviou o Seu Filho, a quem constituiu herdeiro de
todas as coisas (cfr. Hebr. 1,2), para ser mestre, rei e sacerdote
universal, cabeça do novo e universal Povo dos filhos de Deus. Para isto
Deus enviou finalmente também o Espírito de Seu Filho, Senhor e fonte de
vida, o qual é para toda a Igreja e para cada um dos crentes princípio
de agregação e de unidade na doutrina e na comunhão dos Apóstolos, na
fracção do pão e na oração (cfr. Act. 2,42 gr.).
E assim, o Povo de Deus encontra-se entre todos os povos
da terra, já que de todos recebe os cidadãos, que o são dum reino não
terrestre mas celeste. Pois todos os fiéis espalhados pelo orbe
comunicam com os restantes por meio do Espírito Santo, de maneira que
«aquele que vive em Roma, sabe que os indianos são membros seus»(23),.
Mas porque o reino de Cristo não é deste mundo (cfr. Jo. 18,36), a
Igreja, ou seja o Povo de Deus, ao implantar este reino, não subtrai
coisa alguma ao bem temporal de nenhum povo, mas, pelo contrário,
fomenta e assume as qualidades, as riquezas, os costumes e o modo de ser
dos povos, na medida em que são bons; e assumindo-os, purifica-os,
fortalece-os e eleva-os. Pois lembra-se que lhe cumpre ajuntar-se com
aquele rei a quem os povos foram dados em herança (cfr. Salm. 2,8), e
para a cidade à qual levam dons e ofertas (cfr. Salm. 71 [72], 10; Is.
60, 47; Apoc. 21,24). Este carácter de universalidade que distingue o
Povo de Deus é dom do Senhor; por Ele a Igreja católica tende eficaz e
constantemente à recapitulação total da humanidade com todos os seus
bens sob a cabeça, Cristo, na unidade do Seu Espírito (24).
Em virtude desta mesma catolicidade, cada uma das partes
traz às outras e a toda a Igreja os seus dons particulares, de maneira
que o todo e cada uma das partes aumentem pela comunicação mútua entre
todos e pela aspiração comum à plenitude na unidade. Daí vem que o Povo
de Deus não só se forma de elementos oriundos de diversos povos mas
também se compõe ele mesmo de várias ordens. Existe de facto entre os
seus membros diversidade, quer segundo as funções, enquanto alguns
desempenham o sagrado ministério a favor de seus irmãos, quer segundo a
condição e estado de vida, enquanto muitos, no estado religioso,
buscando a santidade por um caminho mais estreito, estimulam os irmãos
com o seu exemplo. É também por isso que na comunhão eclesial existem
legitimamente igrejas particulares com tradições próprias, sem
detrimento do primado da cátedra de Pedro, que preside à universal
assembleia da caridade (25), protege as legítimas diversidades e vigia
para que as particularidades ajudem a unidade e de forma alguma a
prejudiquem. Daí, finalmente, os laços de íntima união entre as diversas
partes da Igreja, quanto às riquezas espirituais, obreiros apostólicos e
ajudas materiais. Pois os membros do Povo de Deus são chamados a
repartir entre si os bens, valendo para cada igreja as palavras do
Apóstolo: «cada um ponha ao serviço dos outros o dom que recebeu, como
bons administradores da multiforme graça de Deus» (1 Ped. 4,10).
Todos os homens são chamados a esta unidade católica do
Povo de Deus, a qual anuncia e promove a paz universal; a ela pertencem,
de vários modos, ou a ela se ordenam, quer os católicos quer os outros
que acreditam em Cristo quer, finalmente, todos os homens em geral, pela
graça de Deus chamados à salvação.
Os fiéis católicos; a necessidade da Igreja
14. O sagrado Concílio volta-se primeiramente para os
fiéis católicos. Fundado na Escritura e Tradição, ensina que esta
Igreja, peregrina sobre a terra, é necessária para a salvação. Com
efeito, só Cristo é mediador e caminho de salvação e Ele torna-Se-nos
presente no Seu corpo, que é a Igreja; ao inculcar expressamente a
necessidade da fé e do Baptismo (cfr. Mc. 16,16; Jo. 3,15), confirmou
simultaneamente a necessidade da Igreja, para a qual os homens entram
pela porta do Baptismo. Pelo que, não se poderiam salvar aqueles que,
não ignorando ter sido a Igreja católica fundada por Deus, por meio de
Jesus Cristo, como necessária, contudo, ou não querem entrar nela ou
nela não querem perseverar.
São plenamente incorporados à sociedade que é a Igreja
aqueles que, tendo o Espírito de Cristo, aceitam toda a sua organização
e os meios de salvação nela instituídos, e que, pelos laços da profissão
da fé, dós sacramentos, do governo eclesiástico e da comunhão, se unem,
na sua estrutura visível, com Cristo, que a governa por meio do Sumo
Pontífice e dos Bispos. Não se salva, porém, embora incorporado à
Igreja, quem não persevera na caridade: permanecendo na Igreja pelo
«corpo», não está nela com o coração (26). Lembrem-se, porém, todos os
filhos da Igreja que a sua sublime condição não é devida aos méritos
pessoais, mas sim à especial graça de Cristo; se a ela não
corresponderem com os pensamentos, palavras e acções, bem longe de se
salvarem, serão antes mais severamente julgados (27).
Os catecúmenos que, movidos pelo Espírito Santo, pedem
explicitamente para serem incorporados na Igreja, já lhe estão unidos
por esse desejo, e a mãe Igreja já os abraça com amor e solicitude.
Vínculos da Igreja com os cristãos não-católicos
15. A Igreja vê-se ainda unida, por muitos títulos, com
os baptizados que têm o nome de cristãos, embora não professem
integralmente a fé ou não guardem a unidade de comunhão com o sucessor
de Pedro (28). Muitos há, com efeito, que têm e prezam a Sagrada
Escritura como norma de fé e de vida, manifestam sincero zelo religioso,
crêem de coração em Deus Pai omnipotente e em Cristo, Filho de Deus
Salvador (29), são marcados pelo Baptismo que os une a Cristo e
reconhecem e recebem mesmo outros sacramentos nas suas próprias igrejas
ou comunidades eclesiásticas. Muitos de entre eles têm mesmo um
episcopado, celebram a sagrada Eucaristia e cultivam a devoção para com
a Virgem Mãe de Deus (30). Acrescenta-se a isto a comunhão de orações e
outros bens espirituais; mais ainda, existe uma certa união verdadeira
no Espírito Santo, o qual neles actua com os dons e graças do Seu poder
santificador, chegando a fortalecer alguns deles até ao martírio. Deste
modo, o Espírito suscita em todos os discípulos de Cristo o desejo e a
prática efectiva em vista de que todos, segundo o modo estabelecido por
Cristo, se unam pacificamente num só rebanho sob um só pastor (31). Para
alcançar este fim, não deixa nossa mãe a Igreja de orar, esperar e agir,
e exorta os seus filhos a que se purifiquem e renovem, para que o sinal
de Cristo brilhe mais claramente no seu rosto.
Relação da Igreja com os não-cristãos
16. Finalmente, aqueles que ainda não receberam o
Evangelho, estão de uma forma ou outra orientados para o Povo de Deus
(32). Em primeiro lugar, aquele povo que recebeu a aliança e as
promessas, e do qual nasceu Cristo segundo a carne (cfr. Rom. 9, 4-5),
povo que segundo a eleição é muito amado, por causa dos Patriarcas, já
que os dons e o chamamento de Deus são irrevogáveis (cfr. Rom. 11,
28-29). Mas o desígnio da salvação estende-se também àqueles que
reconhecem o Criador, entre os quais vêm em primeiro lugar os
muçulmanos, que professam seguir a fé de Abraão, e connosco adoram o
Deus único e misericordioso, que há-de julgar os homens no último dia. E
o mesmo Senhor nem sequer está longe daqueles que buscam, na sombra e em
imagens, o Deus que ainda desconhecem; já que é Ele quem a todos dá
vida, respiração e tudo o mais (cfr. Act. 17, 25-28) e, como Salvador,
quer que todos os homens se salvem (cfr. 1 Tim. 2,4). Com efeito,
aqueles que, ignorando sem culpa o Evangelho de Cristo, e a Sua Igreja,
procuram, contudo, a Deus com coração sincero, e se esforçam, sob o
influxo da graça, por cumprir a Sua vontade, manifestada pelo ditame da
consciência, também eles podem alcançar a salvação eterna (33). Nem a
divina Providência nega os auxílios necessários à salvação àqueles que,
sem culpa, não chegaram ainda ao conhecimento explícito de Deus e se
esforçam, não sem o auxílio da graça, por levar uma vida recta. Tudo o
que de bom e verdadeiro neles há, é considerado pela Igreja como
preparação para receberem o Evangelho (34), dado por Aquele que ilumina
todos os homens, para que possuam finalmente a vida. Mas, muitas vezes,
os homens, enganados pelo demónio, desorientam-se em seus pensamentos e
trocam a verdade de Deus pela mentira, servindo a criatura de
preferência ao Criador (cfr. Rom. 1,21 e 25), ou então, vivendo e
morrendo sem Deus neste mundo, se expõem à desesperação final. Por isso,
para promover a glória de Deus e a salvação de todos estes, a Igreja,
lembrada do mandato do Senhor: «pregai o Evangelho a toda a criatura»
(Mc. 16,16), procura zelosamente impulsionar as missões.
Carácter missionário da Igreja
17. Assim como o Filho foi enviado pelo Pai, assim
também Ele enviou os Apóstolos (cfr. Jo. 20,21) dizendo: «ide, pois,
ensinai todas as gentes, baptizai-as em nome do Pai e do Filho e do
Espírito Santo, ensinai-as a observar tudo aquilo que vos mandei. Eis
que estou convosco todos os dias até à consumação dos séculos» (Mt. 28,
19-20). A Igreja recebeu dos Apóstolos este mandato solene de Cristo, de
anunciar a verdade da salvação e de a levar até aos confins da terra
(cfr. Act. 1,8). Faz, portanto, suas as palavras do Apóstolo: «ai de
mim, se não prego o Evangelho» (1 Cor. 9,16), e por isso continua a
mandar incessantemente os seus arautos, até que as novas igrejas se
formem plenamente e prossigam, por sua vez, a obra da evangelização.
Pois é impelida pelo Espírito Santo a cooperar para que o desígnio de
Deus, que fez de Cristo o princípio de salvação para todo o mundo, se
realize totalmente. Pregando o Evangelho, a Igreja atrai os ouvintes a
crer e confessar a fé, dispõe para o Baptismo, liberta da escravidão do
erro e incorpora-os a Cristo, a fim de que n'Ele cresçam pela caridade,
até à plenitude. E a sua acção faz com que tudo quanto de bom encontra
no coração e no espírito dos homens ou nos ritos e cultura próprios de
cada povo, não só não pereça mas antes seja sanado, elevado e
aperfeiçoado, para glória de Deus, confusão do demónio e felicidade do
homem. A todo. o discípulo de Cristo incumbe o encargo de difundir a fé,
segundo a própria medida (35). Mas se todos podem baptizar os que
acreditam, contudo, é próprio do sacerdote aperfeiçoar, com o sacrifício
eucarístico, a edificação do corpo, cumprindo assim a palavra de Deus,
anunciada pelo profeta: «do Oriente até ao Ocidente grande é o meu nome
entre as gentes, e em todos os lugares é sacrificada e oferecida ao meu
nome uma oblação pura» (Mal. 1,11) (36). É assim que a Igreja
simultâneamente ora e trabalha para que toda a humanidade se transforme
em Povo de Deus, corpo do Senhor e templo do Espírito Santo, e em
Cristo, cabeça de todos, se dê ao Pai e Criador de todas as coisas toda
a honra e toda a glória.
CAPÍTULO III
A CONSTITUIÇÃO HIERÁRQUICA
DA IGREJA E EM ESPECIAL O EPISCOPADO
Proémio: o primado de Pedro
18. Cristo Nosso Senhor, para apascentar e aumentar
continuamente o Povo de Deus, instituiu na Igreja diversos ministérios,
para bem de todo o corpo. Com efeito, os ministros que têm o poder
sagrado servem os seus irmãos para que todos os que pertencem ao Povo de
Deus, e por isso possuem a verdadeira dignidade cristã, alcancem a
salvação, conspirando livre e ordenadamente para o mesmo fim.
Este sagrado Concílio, seguindo os passos do Concílio
Vaticano I, com ele ensina e declara que Jesus Cristo, pastor eterno,
edificou a Igreja tendo enviado os Apóstolos como Ele fora enviado pelo
Pai (cfr. Jo. 20,21); e quis que os sucessores deles, os Bispos, fossem
pastores na Sua Igreja até ao fim dos tempos. Mas, para que o mesmo
episcopado fosse uno e indiviso, colocou o bem-aventurado Pedro à frente
dos outros Apóstolos e nele instituiu o princípio e fundamento perpétuo
e visível da unidade de fé e comunhão (37). Este sagrado Concílio propõe
de novo, para ser firmemente acreditada por todos os fiéis, esta
doutrina sobre a instituição perpétua, alcance e natureza do sagrado
primado do Pontífice romano e do seu magistério infalível, e,
prosseguindo a matéria começada, pretende declarar e manifestar a todos
a doutrina sobre os Bispos, sucessores dos Apóstolos, que, com o
sucessor de Pedro, vigário de Cristo (38) e cabeça visível de toda a
Igreja, governam a casa de Deus vivo.
O colégio dos doze Apóstolos
19. O Senhor Jesus, depois de ter orado ao Pai, chamando
a Si os que Ele quis, elegeu doze para estarem com Ele e para os enviar
a pregar o Reino de Deus (cfr. Mc. 3, 13-19; Mt. 10, 1-42); e a estes
Apóstolos (cfr. Luc. 6,13) constituiu-os em colégio ou grupo estável e
deu-lhes como chefe a Pedro, escolhido de entre eles (cfr. Jo. 21,
15-17). Enviou-os primeiro aos filhos de Israel e, depois, a todos os
povos (cfr. Rom. 1,16), para que, participando do Seu poder, fizessem de
todas as gentes discípulos seus e as santificassem e governassem (cfr.
Mt. 28, 16-20; Mc. 16,15; Luc. 24, 45-8; Jo. 20, 21-23) e deste modo
propagassem e apascentarem a Igreja, servindo-a, sob a direcção do
Senhor, todos os dias até ao fim dos tempos (cfr. Mt. 28,20). No dia de
Pentecostes foram plenamente confirmados nesta missão (cfr. Act. 2,
1-26) segundo a promessa do Senhor: «recebereis a força do Espírito
Santo que descerá sobre vós e sereis minhas testemunhas em Jerusalém e
em toda a Judeia e Samaria e até aos confins da terra (Act. 1,8). E os
Apóstolos, pregando por toda a parte o Evangelho (cfr. Mc. 16,20),
recebido pelos ouvintes graças à acção do Espírito Santo, reunem a
Igreja universal que o Senhor fundou sobre os Apóstolos e levantou sobre
o bem-aventurado Pedro seu chefe, sendo Jesus Cristo a suma pedra
angular (cfr. Apoc. 21,14; Mt. 16,18; Ef. 2,20) (39).
Os Bispos, sucessores dos Apóstolos
20. A missão divina confiada por Cristo aos Apóstolos
durará até ao fim dos tempos (cfr. Mt. 28,20), uma vez que o Evangelho
que eles devem anunciar é em todo o tempo o princípio de toda a vida na
Igreja. Pelo que os Apóstolos trataram de estabelecer sucessores, nesta
sociedade hierarquicamente constituída.
Assim, não só tiveram vários auxiliares no ministério
(40) mas, para que a missão que lhes fora entregue se continuasse após a
sua morte, confiaram a seus imediatos colaboradores, como em testamento,
o encargo de completarem e confirmarem a obra começada por eles (41),
recomendando-lhes que velassem por todo o rebanho, sobre o qual o
Espírito Santo os restabelecera para apascentarem a Igreja de Deus (cfr.
Act. 20, 28). Estabeleceram assim homens com esta finalidade e ordenaram
também que após a sua morte fosse o seu ministério assumido por outros
homens experimentados (42). Entre os vários ministérios que na Igreja se
exercem desde os primeiros tempos, consta da tradição que o principal é
o daqueles que, constituídos no episcopado em sucessão ininterrupta (43)
são transmissores do múnus apostólico (44). E assim, como testemunha
santo Ireneu, a tradição apostólica é manifestada em todo o mundo (45) e
guardada (46) por aqueles que pelos Apóstolos foram constituídos Bispos
e seus sucessores.
Portanto, os Bispos receberam, com os seus colaboradores
os presbíteros e diáconos, o encargo da comunidade (47), presidindo em
lugar de Deus ao rebanho (48) de que são pastores como mestres da
doutrina, sacerdotes do culto sagrado, ministros do governo (49). E
assim como permanece o múnus confiado pelo Senhor singularmente a Pedro,
primeiro entre os Apóstolos, e que se devia transmitir aos seus
sucessores, do mesmo modo permanece o múnus dos Apóstolos de apascentar
a Igreja, o qual deve ser exercido perpetuamente pela sagrada Ordem dos
Bispos (50). Ensina, por isso, o sagrado Concílio que, por instituição
divina, os Bispos sucedem aos Apóstolos (51), como pastores da Igreja;
quem os ouve, ouve a Cristo; quem os despreza, despreza a Cristo e
Aquele que enviou Cristo (cfr. Luc. 10,16) (52).
O Episcopado como Sacramento
21. Na pessoa dos Bispos, assistidos pelos presbíteros,
está presente no meio dos fiéis o Senhor Jesus Cristo, pontífice máximo.
Sentado à direita de Deus Pai, não deixa de estar presente ao corpo dos
seus pontífices (53), mas, antes de mais, por meio do seu exímio
ministério, prega a todas as gentes a palavra de Deus, administra
continuamente aos crentes os sacramento . da fé, incorpora por celeste
regeneração e graças à sua acção paternal cfr. 1 Cor. 4,15) novos
membros ao Seu corpo e, finalmente, com sabedoria e prudência, dirige e
orienta o Povo do Novo Testamento na peregrinação para a eterna
felicidade. Estes pastores, escolhidos para apascentar o rebanho do
Senhor, são ministros de Cristo e dispensadores dos mistérios de Deus
(cfr. 1 Cor. 4,1); a eles foi confiado o testemunho do Evangelho da
graça de Deus (cfr. Rom. 15,16; Act. 20,24) e a administração do
Espírito e da justiça em glória (cfr. 2 Cor. 3, 8-9).
Para desempenhar tão elevadas funções, os Apóstolos
foram enriquecidos por Cristo com uma efusão especial do Espírito Santo
que sobre eles desceu (cfr. Act. 1,8; 2,4; Jo. 20, 22-23), e eles mesmos
transmitiram este dom do Espírito aos seus colaboradores pela imposição
das mãos (cfr. 1 Tim. 4,14; 2 Tim. 1, 6-7), o qual foi transmitido até
aos nossos dias através da consagração episcopal (54). Ensina, porém, o
sagrado Concílio que, pela consagração episcopal, se confere a plenitude
do sacramento da Ordem, aquela que é chamada sumo sacerdócio e suma do
sagrado ministério na tradição litúrgica e nos santos Padres (55). A
consagração episcopal, juntamente com o poder de santificar, confere
também os poderes de ensinar e governar, os quais, no entanto, por sua
própria natureza, só podem ser exercidos em comunhão hierárquica com a
cabeça e os membros do colégio episcopal. De facto, consta pela
tradição, manifestada sobretudo nos ritos litúrgicos da Igreja tanto
ocidental como oriental, que a graça do Espírito Santo é conferida pela
imposição das mãos e pelas palavras da consagração (56), e o carácter
sagrado é impresso (57) de tal modo que os Bispos representam de forma
eminente e conspícua o próprio Cristo, mestre, pastor e pontífice, e
actuam em vez d'Ele (58). Pertence aos Bispos assumir novos eleitos no
corpo episcopal por meio do sacramento da Ordem.
O Colégio dos Bispos e a sua Cabeça
22. Assim como, por instituição do Senhor, S. Pedro e os
restantes Apóstolos formam um colégio apostólico, assim de igual modo
estão unidos entre si o Romano Pontífice, sucessor de Pedro, e os
Bispos, sucessores dos Apóstolos. A natureza colegial da ordem
episcopal, claramente comprovada pelos Concílios ecuménicos celebrados
no decurso dos séculos, manifesta-se já na disciplina. primitiva,
segundo a qual os Bispos de todo o orbe comunicavam entre si e com o
Bispo de Roma no vínculo da unidade, da caridade e da paz (59); e também
na reunião de Concílios (60), nos quais se decidiram em comum coisas
importantes (61), depois de ponderada a decisão pelo parecer de muitos
(62); o mesmo é claramente demonstrado pelos Concílios Ecuménicos,
celebrados no decurso dos séculos. E o uso já muito antigo de chamar
vários Bispos a participarem na elevação do novo eleito ao ministério do
sumo sacerdócio insinua-a já também. É, pois, em virtude da sagração
episcopal e pela comunhão hierárquica com a cabeça e os membros do
colégio que alguém é constituído membro do corpo episcopal.
Porém, o colégio ou corpo episcopal não tem autoridade a
não ser em união com o Romano Pontífice, sucessor de Pedro, entendido
com sua cabeça, permanecendo inteiro o poder do seu primado sobre todos,
quer pastores quer fiéis. Pois o Romano Pontífice, em virtude do seu
cargo de vigário de Cristo e pastor de toda a Igreja, tem nela pleno,
supremo e universal poder que pode sempre exercer livremente. A Ordem
dos Bispos, que sucede ao colégio dos Apóstolos no magistério e no
governo pastoral, e, mais ainda, na qual o corpo apostólico se continua
perpetuamente, é também juntamente com o Romano Pontífice, sua cabeça, e
nunca sem a cabeça, sujeito do supremo e pleno poder sobre toda a Igreja
(63), poder este que não se pode exercer senão com o consentimento do
Romano Pontífice. Só a Simão colocou o Senhor como pedra e clavário da
Igreja (cfr. Mt. 16, 18-19), e o constituiu pastor de todo o Seu rebanho
(cfr. Jo. 21, 15 ss.); mas é sabido que o encargo de ligar e desligar
conferido a Pedro (Mt. 16,19), foi também atribuído ao colégio dos
Apóstolos unido à sua cabeça (Mt. 18,18; 28, 16-20) (64). Este colégio,
enquanto composto por muitos, exprime a variedade e universalidade do
Povo de Deus e, enquanto reunido sob uma só cabeça, revela a unidade do
redil de Cristo. Neste colégio, os Bispos, respeitando fielmente o
primado e chefia da sua cabeça, gozam de poder próprio para bem dos seus
fiéis e de toda a Igreja, corroborando sem cessar o Espírito Santo a
estrutura orgânica e a harmonia desta.
O supremo poder sobre a Igreja universal, que este
colégio tem, exerce-se solenemente no Concílio Ecuménico. Nunca se dá um
Concílio Ecuménico sem que seja como tal confirmado ou pelo menos aceite
pelo sucessor de Pedro; e é prerrogativa do Romano Pontífice convocar
estes Concílios, presidi-los e confirmá-los (65). O mesmo poder colegial
pode ser exercido, juntamente com o Papa, pelos Bispos espalhados pelo
mundo, contanto que a cabeça do colégio os chame a uma acção colegial
ou, pelo menos, aprove ou aceite livremente a acção conjunta dos Bispos
dispersos, de forma que haja verdadeiro acto colegial.
Relação dos Bispos dentro do Colégio
23. A união colegial aparece também nas mútuas relações
de cada Bispo com as igrejas particulares e com a Igreja universal. O
Romano Pontífice, como sucessor de Pedro, é perpétuo e visível
fundamento da unidade, não só dos Bispos mas também da multidão dos
fiéis (66). E cada um dos Bispos é princípio e fundamento visível da
unidade nas suas respectivas igrejas(67), formadas à imagem da Igreja
universal, das quais e pelas quais existe a Igreja católica, una e única
(68). Pelo que, cada um dos Bispos representa a sua igreja e, todos em
união com o Papa, no vínculo da paz, do amor e da unidade, a Igreja
inteira.
Cada um dos Bispos que estão à frente de igrejas
particulares, desempenha a acção pastoral sobre o porção do Povo de Deus
a ele confiada, não sobre as outras igrejas nem sobre a Igreja
universal. Porém, enquanto membros do colégio episcopal e legítimos
sucessores dos Apóstolos, estão obrigados, por instituição e preceito de
Cristo, à solicitude sobre toda a Igreja (69), a qual, embora não se
exerça por um acto de jurisdição, concorre, contudo, grandemente para o
bem da Igreja universal. Todos os Bispos devem, com efeito, promover e
defender a unidade da fé e disciplina comum a toda a Igreja; formar os
fiéis no amor pelo Corpo místico de Cristo, principalmente pelos membros
pobres, sofredores e que padecem perseguição por amor da justiça (cfr.
Mt. 5,0); devem, finalmente, promover todas as actividades que são
comuns a toda a Igreja, sobretudo para que a fé se difunda e a luz da
verdade total nasça para todos os homens. Aliás, é certo que, governando
bem a própria igreja, como porção da Igreja universal, concorrem
eficazmente para o bem de todo o Corpo místico, que é também o corpo das
igrejas (70).
O cuidado de anunciar o Evangelho em todas as partes da
terra pertence ao corpo dos pastores, aos quais em conjunto deu Cristo o
mandato, impondo este comum dever, como já o Papa Celestino recordava
aos Padres do Concílio de Éfeso (71). Pelo que, cada um dos Bispos,
quanto o desempenho do seu próprio ministério o permitir, está obrigado
a colaborar com os demais Bispos é com o sucessor de Pedro, a quem, dum
modo especial, foi confiado o nobre encargo de propagar o cristianismo
(72). Devem, por isso, com todas as forças, subministrar às Missões, não
só operários para a messe, mas também auxílios espirituais e materiais,
tanto por si mesmos directamente como fomentando a generosa cooperação
dos fiéis. Finalmente, os Bispos, em universal comunhão de caridade,
prestem de boa vontade ajuda fraterna às outras igrejas, em especial às
mais vizinhas e necessitadas, segundo o venerando exemplo dos
antepassados.
Por divina Providência sucedeu que várias igrejas,
instituídas em diversos lugares pelos Apóstolos e seus sucessores, se
juntam, no decorrer do tempo, em vários grupos organicamente unidos, os
quais, salva a unidade da fé e a única constituição divina da Igreja
universal, têm leis próprias, rito litúrgico próprio, e património
teológico e espiritual próprio. Algumas de entre elas, principalmente as
antigas igrejas patriarcais, como matrizes da fé, geraram outras, que
são como que as suas filhas e com as quais permaneceram unidas na vida
sacramental e no respeito pelos mútuos direitos e deveres (73). Esta
variedade de igrejas locais a convergir para a unidade, manifesta mais
claramente a catolicidade da indivisa Igreja. De modo semelhante, as
Conferências episcopais podem hoje aportar uma contribuição múltipla e
fecunda para que o sentimento colegial leve a aplicações concretas.
O tríplice ministério dos Bispos
24. Os Bispos, com sucessores dos Apóstolos, recebem do
Senhor, a quem foi dado todo o poder no céu e na terra, a missão de
ensinar todos os povos e de pregar o Evangelho a toda a criatura, para
que todos os homens se salvem pela fé, pelo Baptismo e pelo cumprimento
dos mandamentos (cfr. Mt 28,18; Mc. 16, 15-16; Act. 26, 17 ss.). Para
realizar esta missão, Cristo Nosso Senhor prometeu o Espírito Santo aos
Apóstolos e enviou-o do céu no dia de Pentecostes, para, com o Seu
poder, serem testemunhas perante as nações, os povos e os reis, até aos
confins da terra (cfr. Act. 1,8; 2,1 ss.; 9,15). Este encargo que o
Senhor confiou aos pastores do Seu povo é um verdadeiro serviço,
significativamente chamado «diaconia» ou ministério na Sagrada Escritura
(cfr. Act. 1, 17 e 25; 21-19; Rom. 11, 13; 1 Tim. 1,12).
A missão canónica dos Bispos pode realizar-se segundo
legítimos costumes, não revogados pela suprema e universal autoridade da
Igreja, ou por leis concedidas ou reconhecidas por esta mesma
autoridade, ou directamente pelo próprio sucessor de Pedro. Se este
recusar ou negar a comunhão apostólica, não poderão os Bispos entrar no
exercício do seu cargo (74).
O ministério episcopal de ensinar
25. Entre os principais encargos dos Bispos ocupa lugar
preeminente a pregação do Evangelho (75). Os Bispos são os arautos da fé
que para Deus conduzem novos discípulos. Dotados da autoridade de
Cristo, são doutores autênticos, que pregam ao povo a eles confiado a fé
que se deve crer e aplicar na vida prática; ilustrando-a sob a luz do
Espírito Santo e tirando do tesoiro da revelação coisas novas e antigas
(cfr. Mt. 13,52), fazem-no frutificar e solicitamente afastam os erros
que ameaçam o seu rebanho (cfr. 2 Tim. 4, 1-4). Ensinando em comunhão
com o Romano Pontífice, devem por todos ser venerados como testemunhas
da verdade divina e católica. E os fiéis devem conformar-se ao parecer
que o seu Bispo emite em nome de Cristo sobre matéria de fé ou costumes,
aderindo a ele com religioso acatamento. Esta religiosa submissão da
vontade e do entendimento é por especial razão devida ao magistério
autêntico do Romano Pontífice, mesmo quando não fala ex cathedra;
de maneira que o seu supremo magistério seja reverentemente reconhecido,
se preste sincera adesão aos ensinamentos que dele emanam, segundo o seu
sentir e vontade; estes manifestam-se sobretudo quer pela índole dos
documentos, quer pelas frequentes repetições da mesma doutrina, quer
pelo modo de falar.
Embora os Bispos, individualmente, não gozem da
prerrogativa da infalibilidade, anunciam, porém, infalivelmente a
doutrina de Cristo sempre que, embora dispersos pelo mundo mas unidos
entre si e com o sucessor de Pedro, ensinam autenticamente matéria de fé
ou costumes concordando em que uma doutrina deve ser tida por definida
(76). O que se verifica ainda mais manifestamente quando, reunidos em
Concílio Ecuménico, são doutores e juízes da fé e dos costumes para toda
a Igreja, devendo-se aderir com fé às suas definições (77).
Mas esta infalibilidade com que o divino Redentor quis
dotar a Sua igreja, na definição de doutrinas de fé ou costumes,
estende-se tanto quanto se estende o depósito da divina Revelação, o
qual se deve religiosamente guardar e fielmente expor. Desta mesma
infalibilidade goza o Romano Pontífice em razão do seu ofício de cabeça
do colégio episcopal, sempre que, como supremo pastor dos fiéis
cristãos, que deve confirmar na fé os seus irmãos (cfr. Lc. 22,32),
define alguma doutrina em matéria de fé ou costumes (78). As suas
definições com razão se dizem irreformáveis por si mesmas e não pelo
consenso da Igreja, pois foram pronunciadas sob a assistência do
Espírito Santo, que lhe foi prometida na pessoa de S. Pedro. Não
precisam, por isso, de qualquer alheia aprovação, nem são susceptíveis
de apelação a outro juízo. Pois, nesse caso, o Romano Pontífice não fala
como pessoa privada, mas expõe ou defende a doutrina da fé católica como
mestre supremo da Igreja universal, no qual reside de modo singular o
carisma da infalibilidade da mesma Igreja (79). A infalibilidade
prometida à Igreja reside também no colégio episcopal, quando este
exerce o supremo magistério em união com o sucessor de Pedro. A estas
definições nunca pode faltar o assentimento da Igreja, graças à acção do
Espírito Santo, que conserva e faz progredir na unidade da fé todo o
rebanho de Cristo (80).
Porém, quando o Romano Pontífice, ou o corpo episcopal
com ele, define alguma verdade, propõe-na segundo a Revelação, à qual
todos se devem conformar. Esta transmite-se integralmente, por escrito
ou por tradição, através da legítima sucessão dos Bispos e, antes de
mais, graças à solicitude do mesmo Romano Pontífice; e, sob a iluminação
do Espírito de verdade, é santamente conservada e fielmente exposta na
Igreja (81). Para a investigar como convém e enunciar aptamente, o
Romano Pontífice e os Bispos, segundo o próprio ofício e a gravidade do
assunto, trabalham diligentemente, recorrendo aos meios adequados (82);
não recebem, porém, nenhuma nova revelação pública que pertença ao
depósito divino da fé (83).
O ministério episcopal de santificar
26. Revestido da plenitude do sacramento da Ordem, o
Bispo é o «administrador da graça do supremo sacerdócio» (84),
principalmente na Eucaristia, que ele mesmo oferece ou providencia para
que seja oferecida (85), e pela qual vive e cresce a Igreja. Esta Igreja
de Cristo está verdadeiramente presente em todas as legítimas
comunidades locais de fiéis, as quais aderindo aos seus pastores, são
elas mesmas chamadas igrejas no Novo Testamento (86). Pois elas são, no
local em que se encontram, o novo Povo chamado por Deus, no Espírito
Santo e com plena segurança (cfr. 1 Tess. 1, 5). Nelas se congregam os
fiéis pela pregação do Evangelho de Cristo e se celebra o mistério da
Ceia do Senhor «para que o corpo da
inteira fraternidade seja unido por meio da carne e sangue do Senhor»
(87) Em qualquer comunidade que participa do altar sob o ministério
sagrado do Bispo (88), é manifestado o símbolo do amor e da unidade do
Corpo místico, sem o que não pode haver salvação (89). Nestas
comunidades, embora muitas vezes pequenas e pobres, ou dispersas, está
presente Cristo, por cujo poder se unifica a Igreja una, santa, católica
e apostólica (90). Pois «outra coisa não faz a participação no corpo e
sangue de Cristo, do que transformar-nos naquilo que recebemos» (91).
Toda a legítima celebração da Eucaristia é dirigida pelo Bispo, a quem
foi confiado o encargo de oferecer à divina Majestade o culto da
religião cristã, e de o regular segundo os preceitos do Senhor e as leis
da Igreja, ulteriormente determinadas para a própria diocese, segundo o
seu parecer. Deste modo, os Bispos, orando e trabalhando pelo povo,
espalham multiforme e abundantemente «plenitude da santidade de Cristo.
Pelo ministério da palavra, comunicam a força de Deus, para salvação dos
que crêem (cfr. Rom. 1,16) e, por meio dos sacramentos, cuja
distribuição regular e frutuosa ordenam com a sua autoridade, santificam
os fiéis (92). São eles que regulam a administração do Baptismo, pelo
qual é concedida a participação no sacerdócio real de Cristo. São eles
os ministros originários da Confirmação, dispensadores das sagradas
ordens e reguladores da disciplina penitencial, e com solicitude exortam
e instruem o seu povo para que participe com fé e reverência na
Liturgia, principalmente no santo sacrifício da missa. Finalmente, devem
ajudar com o próprio exemplo aqueles que governam, purificando os
próprios costumes de todo o mal e tornando-os bons, quanto lhes for
possível com o auxílio do Senhor, para que alcancem, com o povo que lhes
é confiado, a vida eterna (93).
O ministério episcopal de reger
27. Os Bispos governam as igrejas particulares que lhes
foram confiadas como vigários e legados de Cristo (94), por meio de
conselhos, persuasões, exemplos, mas também com autoridade e poder
sagrado, que exercem unicamente para edificar o próprio rebanho na
verdade e na santidade, lembrados de que aquele que é maior se deve
fazer como o menor, e o que preside como aquele que serve (cfr. Luc. 22,
26-27). Este poder que exercem pessoalmente em nome de Cristo, é
próprio, ordinário e imediato, embora o seu exercício seja superiormente
regulado pela suprema autoridade da Igreja e possa ser circunscrito
dentro de certos limites para utilidade da Igreja ou dos fiéis. Por
virtude deste poder, têm os Bispos o sagrado direito e o dever, perante
o Senhor, de promulgar leis para os seus súbditos, de julgar e de
orientar todas as coisas que pertencem à ordenação do culto e do
apostolado.
A eles é confiado em plenitude o encargo pastoral, isto
é, o cuidado quotidiano e habitual das próprias ovelhas; nem devem ser
tidos por vigários dos Romanos Pontífices, uma vez que exercem uma
autoridade própria e com toda a verdade são chamados antístites (95) dos
povos que governam. O seu poder não é, pois, diminuído pela autoridade
suprema e universal, mas antes, pelo contrário, é por ela assegurado,
fortificado e defendido (96), dado que o Espírito Santo conserva
indefectivelmente a forma de governo estabelecida por Cristo Nosso
Senhor na Igreja.
O Bispo, enviado pelo Pai de família a governar a Sua
família, tenha diante dos olhos o exemplo do bom pastor, que veio servir
e não ser servido (cfr. Mt. 20,28; Mc. 10,45) e dar a própria vida pelas
ovelhas (cfr. Jo. 10,11). Escolhido dentre os homens, e sujeito às
fraquezas humanas, pode compadecer-se dos ignorantes e transviados (cfr.
Hebr. 5, 1-2). Não se recuse a ouvir os súbditos, de quem cuida como
verdadeiros filhos e a quem exorta a que animosamente cooperem consigo.
Tendo que prestar contas a Deus pelas suas almas (cfr. Hebr. 13,17),
deve, com a oração, a pregação e todas as obras de caridade, ter cuidado
tanto deles como daqueles que ainda não pertencem ao único rebanho, os
quais ele deve considerar como tendo-lhe sido confiados pelo Senhor.
Devendo, como o Apóstolo, dar-se a todos, esteja sempre pronto para a
todos evangelizar (cfr. Rom. 1, 14-15) e para exortar os próprios fiéis
ao trabalho apostólico e missionário. Por seu lado, os fiéis devem
aderir ao seu Bispo, como a Igreja adere a Jesus Cristo, e Jesus Cristo
ao Pai, a fim de que todas as coisas conspirem para a unidade (97) e se
multipliquem para a glória de Deus (cfr. 2 Cor. 4,15).
Os Presbíteros e suas relações com Cristo,
com os Bispos, com o presbitério e com o povo Cristão
28. Por meio dos Seus Apóstolos, Cristo, a quem o Pai
santificou e enviou ao mundo (Jo. 10,36), tornou os Bispos, que são
sucessores daqueles, participantes da Sua consagração e missão (98): e
estes transmitiram legitimamente o múnus do seu ministério em grau
diverso e a diversos sujeitos. Assim, o ministério eclesiástico,
instituído por Deus, é exercido em ordens diversas por aqueles que desde
a antiguidade são chamados Bispos, presbíteros e diáconos (99). Os
presbíteros, embora não possuam o fastígio do pontificado e dependam dos
Bispos no exercício do próprio poder, estão-lhes, porém, unidos na honra
do sacerdócio (100) e, por virtude do sacramento da Ordem (101), são
consagrados, à imagem de Cristo, sumo e eterno sacerdote (Hebr. 5, 1-10;
7,24; 9, 11-28), para pregar o Evangelho, apascentar os fiéis e celebrar
o culta divino, como verdadeiros sacerdotes do Novo Testamento (102).
Participantes, segundo o grau do seu ministério, da função de Cristo
mediador único (1 Tim, 2,5), anunciam a todos a palavra de Deus. Mas é
no culto. ou celebração eucarística que exercem principalmente o seu
múnus sagrado; nela, actuando em nome de Cristo (103) e proclamando o
Seu mistério, unem as preces dos fiéis ao sacrifício da cabeça e, no
sacrifício da missa, representam e aplicam, até à vinda do Senhor (cfr.
1 Cor. 11,26), o único sacrifício do Novo Testamento, ou seja, Cristo
oferecendo-se, uma vez por todas, ao Pai, como hóstia imaculada (cfr.
Hebr. 9, 11-28) (104). Exercem ainda, por título eminente, o ministério
da reconciliação e o do conforto para com os fiéis arrependidos ou
enfermos, e apresentam a Deus Pai as necessidades e preces dos crentes
(cfr. Hebr. 5, 1-4. Desempenhando, segundo a medida da autoridade que
possuem, o múnus de Cristo pastor e cabeça (105), reúnem a família de
Deus em fraternidade animada por um mesmo espírito (106) e, por Cristo e
no Espírito Santo, conduzem-na a Deus Pai. No meio do próprio rebanho
adoram-nO em espírito e verdade (cfr. Jo. 4,24). Trabalham, enfim,
pregando e ensinando (1 Tim. 5,17), acreditando no que lêem e meditam na
lei do Senhor, ensinando o que crêem e vivendo o que ensinam (107).
Os presbíteros, como esclarecidos cooperadores da ordem
episcopal (108) e a sua ajuda e instrumento, chamados para o serviço do
Povo de Deus, constituem com o seu Bispo um presbitério (108) com
diversas funções. Em cada uma das comunidades de fiéis, tornam de algum
modo presente o Bispo, ao qual estão associados com ânimo fiel e
generoso e cujos encargos e solicitude assumem, segundo a própria
medida, e exercem com cuidado quotidiano. Sob a autoridade do Bispo,
santificam e governam a porção do rebanho a si confiada, tornam visível,
no lugar em que estão, a Igreja universal e prestam uma grande ajuda
para a edificação de todo o corpo de Cristo (cfr. Ef. 4, 12). Sempre
atentos ao bem dos filhos de Deus, procurem dar a sua ajuda ao trabalho
de toda a diocese, melhor, de toda a Igreja. Por causa desta
participação no sacerdócio e na missão, reconheçam os presbíteros o
Bispo verdadeiramente como pai, e obedeçam-lhe com reverência. O Bispo,
por seu lado, considere os sacerdotes, seus colaboradores, como filhos e
amigos, à imitação de Cristo que já não chama aos seus discípulos servos
mas amigos (cfr. Jo. 15,15). Deste modo, todos os sacerdotes, tanto
diocesanos como religiosos, estão associados ao corpo episcopal em razão
da Ordem e do ministério, e, segundo a própria vocação e graça,
contribuem para o bem de toda a Igreja.
Em virtude da comum sagrada ordenação e missão, todos os
presbíteros estão entre si ligados em íntima fraternidade, que
espontânea e livremente se deve manifestar no auxílio mútuo, tanto
espiritual como material, pastoral ou pessoal, em reuniões e na comunhão
de vida, de trabalho e de caridade.
Velem, como pais em Cristo, pelos fiéis que
espiritualmente geraram pelo Baptismo e pela doutrinação (cfr. 1 Cor.
4,15; 1 Ped. 1,23). Fazendo-se, de coração, os modelos do rebanho (1
Ped. 5,3), de tal modo dirijam e sirvam a sua comunidade local que esta
possa dignamente ser chamada com aquele nome com que se honra o único
Povo de Deus todo inteiro, a saber, a Igreja de Deus (cfr. 1 Cor. 1,2; 2
Cor. 1,1; etc. etc.). No seu trato e solicitude de cada dia, não se
esqueçam de apresentar aos fiéis e infiéis, aos católicos e
não-católicos, a imagem do autêntico ministério sacerdotal e pastoral,
de dar a todos testemunho de verdade e de vida, e de procurar também,
como bons pastores (cfr. Luc. 15, 4-7), aqueles que, baptizados embora
na Igreja católica, abandonaram os sacramentos ou até mesmo a fé.
Dado que o género humano caminha hoje cada vez mais para
a unidade política, económica e social, tanto mais necessário é que os
sacerdotes em conjunto e sob a direcção dos Bispos e do Sumo Pontífice,
evitem todo o motivo de divisão, para que a humanidade toda seja
conduzida à unidade da família de Deus.
Os diáconos
29. Em grau inferior da hierarquia estão os diáconos,
aos quais foram impostas as mãos «não em ordem ao sacerdócio mas ao
ministério» (109). Pois que, fortalecidos com a graça sacramental,
servem o Povo de Deus em união com o Bispo e o seu presbitério, no
ministério da Liturgia, da palavra e da caridade. É próprio do diácono,
segundo for cometido pela competente autoridade, administrar solenemente
o Baptismo, guardar e distribuir a Eucaristia, assistir e abençoar o
Matrimónio em nome da Igreja, levar o viático aos moribundos, ler aos
fiéis a Sagrada Escritura, instruir e exortar o povo, presidir ao culto
e à oração dos fiéis, administrar os sacramentais, dirigir os ritos do
funeral e da sepultura. Consagrados aos ofícios da caridade e da
administração, lembrem-se os diáconos da recomendação de S. Policarpo: «misericordiosos, diligentes,
caminhando na verdade do Senhor, que se fez servo de todos» (110).
Como porém, estes ofícios, muito necessários para a vida
da Igreja na disciplina actual da Igreja latina, dificilmente podem ser
exercidos em muitas regiões, o diaconado poderá ser, para o futuro,
restaurado como grau próprio e permanente da Hierarquia. As diversas
Conferências episcopais territoriais competentes cabe decidir, com a
aprovação do Sumo Pontífice, se e onde é oportuno instituir tais
diáconos para a cura das almas. Com o consentimento do Romano Pontífice,
poderá este diaconado ser conferido a homens de idade madura, mesmo
casados, e a jovens idóneos; em relação a estes últimos, porém,
permanece em vigor a lei do celibato.
CAPÍTULO IV
OS LEIGOS
Proémio: Carácter peculiar dos leigos
30. Declaradas as diversas funções da Hierarquia, o
sagrado Concílio volta de bom grado a sua atenção para o estado daqueles
fiéis cristãos que se chamam leigos. Com efeito, se é verdade que todas
as coisas que se disseram a respeito do Povo de Deus se dirigem
igualmente aos leigos, aos religiosos e aos clérigos, algumas, contudo,
pertencem de modo particular aos leigos, homens e mulheres, em razão do
seu estado e missão; e os seus fundamentos, devido às circunstâncias
especiais do nosso tempo, devem ser mais cuidadosamente expostos. Os
sagrados pastores conhecem, com efeito, perfeitamente quanto os leigos
contribuem para o bem de toda a Igreja. Pois eles próprios sabem que não
foram instituídos por Cristo para se encarregarem por si sós de toda a
missão salvadora da Igreja para com o mundo, mas que o seu cargo sublime
consiste em pastorear de tal modo os fiéis e de tal modo reconhecer os
seus serviços e carismas, que todos, cada um segundo o seu modo próprio,
cooperem na obra comum. Pois é necessário que todos, «praticando a
verdade na caridade, cresçamos de todas as maneiras para aquele que é a
cabeça, Cristo; pelo influxo do qual o corpo inteiro, bem ajustado e
coeso por toda a espécie de junturas que o alimentam, com a acção
proporcionada a cada membro, realiza o seu crescimento em ordem à
própria edificação na caridade (Ef. 4, 15-16).
Conceito e vocação do leigo na Igreja
31. Por leigos entendem-se aqui todos os cristãos que
não são membros da sagrada Ordem ou do estado religioso reconhecido pela
Igreja, isto é, os fiéis que, incorporados em Cristo pelo Baptismo,
constituídos em Povo de Deus e tornados participantes, a seu modo, da
função sacerdotal, profética e real de Cristo, exercem, pela parte que
lhes toca, a missão de todo o Povo cristão na Igreja se no mundo.
É própria e peculiar dos leigos a característica
secular. Com efeito, os membros da sagrada Ordem, ainda que algumas
vezes possam tratar de assuntos seculares, exercendo mesmo uma profissão
profana, contudo, em razão da sua vocação específica, destinam-se
sobretudo e expressamente ao sagrado ministério; enquanto que os
religiosos, no seu estado, dão magnífico e privilegiado testemunho de
que se não pode transfigurar o mundo e oferecê-lo a Deus sem o espírito
das bem-aventuranças. Por vocação própria, compete aos leigos procurar o
Reino de Deus tratando das realidades temporais e ordenando-as segundo
Deus. Vivem no mundo, isto é, em toda e qualquer ocupação e actividade
terrena, e nas condições ordinárias da vida familiar e social, com as
quais é como que tecida a sua existência. São chamados por Deus para
que, aí, exercendo o seu próprio ofício, guiados pelo espírito
evangélico, concorram para a santificação do mundo a partir de dentro,
como o fermento, e deste modo manifestem Cristo aos outros, antes de
mais pelo testemunho da própria vida, pela irradiação da sua fé,
esperança e caridade. Portanto, a eles compete especialmente, iluminar e
ordenar de tal modo as realidades temporais, a que estão estreitamente
ligados, que elas sejam sempre feitas segundo Cristo e progridam e
glorifiquem o Criador e Redentor.
Unidade na diversidade
32. A santa Igreja, por instituição divina, é organizada
e governada com uma variedade admirável. «Assim como num mesmo corpo
temos muitos membros, e nem todos têm a mesma função, assim, sendo
muitos, formamos um só corpo em Cristo, sendo membros uns dos outros»
(Rom. 12, 4-5).
Um só é, pois, o Povo de Deus: «um só Senhor, uma só fé,
um só Baptismo (Ef. 4,5); comum é a dignidade dos membros, pela
regeneração em Cristo; comum a graça de filhos, comum a vocação à
perfeição; uma só salvação, uma só esperança e uma caridade indivisa.
Nenhuma desigualdade, portanto, em Cristo e na Igreja, por motivo de
raça ou de nação, de condição social ou de sexo, porque «não há judeu
nem grego, escravo nem homem livre, homem nem mulher: com efeito, em
Cristo Jesus, todos vós sois um» (Gál. 3,28 gr.; cfr. Col. 3,11).
Portanto, ainda que, na Igreja, nem todos sigam pelo
mesmo caminho, todos são, contudo, chamados à santidade, e a todos coube
a mesma fé pela justiça de Deus (cfr. 2 Ped. 1,1). Ainda que, por
vontade de Cristo, alguns são constituídos doutores, dispensadores dos
mistérios e pastores em favor dos demais, reina, porém, igualdade entre
todos quanto à dignidade e quanto à actuação, comum a todos os fiéis, em
favor da edificação do corpo de Cristo. A distinção que o Senhor
estabeleceu entre os ministros sagrados e o restante Povo de Deus,
contribui para a união, já que os pastores e os demais fiéis estão
ligados uns aos outros por uma vinculação comum: os pastores da Igreja,
imitando o exemplo do Senhor, prestem serviço uns aos outros e aos
fiéis: e estes dêem alegremente a sua colaboração aos pastores e
doutores. Deste modo, todos testemunham, na variedade, a admirável
unidade do Corpo místico de Cristo: a própria diversidade de graças,
ministérios e actividades, consagra em unidade os filhos de Deus, porque
«um só e o mesmo é o Espírito que opera todas estas coisas» (1 Cor.
12,11).
Os leigos, portanto, do mesmo modo que, por divina
condescendência, têm por irmão a Cristo, o qual, apesar de ser Senhor de
todos, não veio para ser servido mas para servir (cfr. Mt. 20,28), de
igual modo têm por irmãos aqueles que, uma vez estabelecidos no sagrado
ministério, apascentam a família de Deus ensinando, santificando e
governando com a autoridade de Cristo, de modo que o mandamento da
caridade seja por todos observado. A este respeito diz belissimamente S.
Agostinho: «aterra-me o ser para vós, mas consola-me o estar convosco.
Sou para vós, como Bispo; estou convosco, como cristão. Nome de ofício,
o primeiro; de graça, o segundo; aquele, de risco; este, de
salvação»(111).
O Apostolado dos leigos
33. Unidos no Povo de Deus, e constituídos no corpo
único de Cristo sob uma só cabeça, os leigos, sejam quais forem, todos
são chamados a concorrer como membros vivos, com todas as forças que
receberam da bondade do Criador e por graça do Redentor, para o
crescimento da Igreja e sua contínua santificação.
O apostolado dos leigos é participação na própria missão
salvadora da Igreja, e para ele todos são destinados pelo Senhor, por
meio do Baptismo e da Confirmação. E os sacramentos, sobretudo a sagrada
Eucaristia, comunicam e alimentam aquele amor para com Deus e para com
os homens, que é a alma de todo o apostolado.
Mas os leigos são especialmente chamados a tornarem a
Igreja presente e activa naqueles locais e circunstâncias em que só por
meio deles ela pode ser o sal da terra (112). Deste modo, todo e
qualquer leigo, pelos dons que lhe foram concedidos, é ao mesmo tempo
testemunha e instrumento vivo da missão da própria Igreja, «segundo a
medida concedida por Cristo» (Ef. 4,7).
Além deste apostolado, que diz respeito a todos os
fiéis, os leigos podem ainda ser chamados, por diversos modos, a uma
colaboração mais imediata no apostolado da Hierarquia 3, à semelhança
daqueles homens e mulheres que ajudavam o apóstolo Paulo no Evangelho,
trabalhando muito no Senhor (cfr. Fil. 4,3; Rom. 16,3 ss.). Têm ainda a
capacidade de ser chamados pela Hierarquia a exercer certos cargos
eclesiásticos, com finalidade espiritual.
Incumbe, portanto, a todos os leigos a magnífica tarefa
de trabalhar para que o desígnio de salvação atinja cada vez mais os
homens de todos os tempos e lugares. Esteja-lhes, pois, amplamente
aberto o caminho, a fim de que, segundo as próprias forças e as
necessidades dos tempos, também eles participem com ardor na acção
salvadora da Igreja.
A consagração do mundo pelo apostolado dos leigos
34. O supremo e eterno sacerdote Cristo Jesus, querendo
também por meio dos leigos continuar o Seu testemunho e serviço,
vivifica-o pelo Seu Espírito e sem cessar os incita a toda a obra boa e
perfeita. E assim, àqueles que Intimamente associou à própria vida e
missão, concedeu também participação no seu múnus sacerdotal, a fim de
que exerçam um culto espiritual, para glória de Deus e salvação dos
homens. Por esta razão, os leigos, enquanto consagrados a Cristo e
ungidos no Espírito Santo, têm uma vocação admirável e são instruídos
para que os frutos do Espírito se multipliquem neles cada vez mais
abundantemente. Pois todos os seus trabalhos, orações e empreendimentos
apostólicos, a vida conjugal e familiar, o trabalho de cada dia, o
descanso do espírito e do corpo, se forem feitos no Espírito, e as
próprias incomodidades da vida, suportadas com paciência, se tornam em
outros tantos sacrifícios espirituais, agradáveis a Deus por Jesus
Cristo (cfr. 1 Ped. 2,5); sacrifícios estes que são piedosamente
oferecidos ao Pai, juntamente com a oblação do corpo do Senhor, na
celebração da Eucaristia. E deste modo, os leigos, agindo em toda a
parte santamente, como adoradores, consagram a Deus o próprio mundo.
O testemunho de vida pelo apostolado dos leigos
35. Cristo, o grande profeta, que pelo testemunho da
vida e a força da palavra proclamou o reino do Pai, realiza a sua missão
profética, até à total revelação da glória, não só por meio da
Hierarquia, que em Seu nome e com a Sua autoridade ensina, mas também
por meio dos leigos; para isso os constituiu testemunhas, e lhes
concedeu o sentido da fé e o dom da palavra (cfr. Act. 2, 17-18; Apoc.
19,10) a fim de que a força do Evangelho resplandeça na vida quotidiana,
familiar e social. Os leigos mostrar-se-ão filhos da promessa se, firmes
na fé e na esperança, aproveitarem bem o tempo presente (cfr. Ef. 5,16;
Col. 4,5) e com paciência esperarem a glória futura (cfr. Rom. 8,25).
Mas não devem esconder esta esperança no seu íntimo, antes, pela
contínua conversão e pela luta «contra os dominadores deste mundo
tenebroso, contra os espíritos do mal»
(Ef. 6,12), manifestem-na também nas estruturas da vida secular.
Do mesmo modo que os sacramentos da nova lei, que
alimentam a vida e o apostolado dos fiéis, prefiguram um novo céu e uma
nova terra (cfr. Apoc. 21,1), assim os leigos tornam-se valorosos
arautos da fé naquelas realidades que esperamos (cfr. Hebr. 11,1), se
juntarem sem hesitação, a uma vida de fé, a profissão da mesma fé. Este
modo de evangelizar, proclamando a mensagem de Cristo com o testemunho
da vida e com a palavra, adquire um certo carácter específico e uma
particular eficácia por se realizar nas condições ordinárias da vida no
mundo.
Nesta obra, desempenha grande papel aquele estado de
vida que é santificado por um sacramento próprio: a vida matrimonial e
familiar. Aí se encontra um exercício e uma admirável escola de
apostolado dos leigos, se a religião penetrar toda a vida e a
transformar cada vez mais. Aí encontram os esposos a sua vocação
própria, de serem um para o outro e para os filhos as testemunhas da fé
e do amor de Cristo. A família cristã proclama em alta voz as virtudes
presentes do reino de Deus e a esperança na vida bem-aventurada. E deste
modo, pelo exemplo e pelo testemunho, argui o mundo do pecado e ilumina
aqueles que buscam a verdade.
Por isso, ainda mesmo quando ocupados com os cuidados
temporais, podem e devem os leigos exercer valiosa acção para a
evangelização do mundo. E se há alguns que, na medida do possível,
suprem nas funções religiosas os ministros sagrados que faltam ou estão
impedidos em tempo de perseguição, a todos, porém, incumbe a obrigação
de cooperar para a dilatação e crescimento do Reino de Cristo no mundo.
Dediquem-se, por isso, os leigos com diligência a conseguir um
conhecimento mais profundo da verdade revelada, e peçam insistentemente
a Deus o dom da sabedoria.
A santificação das estruturas humanas pelo
apostolado dos leigos
36. Tendo-se feito obediente até à morte e tendo sido,
por este motivo, exaltado pelo Pai (cfr. Fil. 2, 8-9), entrou Cristo na
glória do Seu reino. Todas as coisas Lhe estão sujeitas, até que Ele se
submeta, e a todas as criaturas, ao Pai, para que Deus seja tudo em
todos (cfr. 1 Cor. 15, 27-28). Comunicou este poder aos discípulos, para
que também eles sejam constituídos em régia liberdade e, com a abnegação
de si mesmos e a santidade da vida, vençam em si próprios o reino do
pecado (cfr. Rom. 6,12); mais ainda, para que, servindo a Cristo também
nos outros, conduzam os seus irmãos, com humildade e paciência, àquele
Rei, a quem servir é reinar. Pois o Senhor deseja dilatar também por
meio dos leigos o Seu reino, reino de verdade e de vida, reino de
santidade e de graça, reino de justiça, de amor e de paz (114), no qual
a própria criação será liberta da servidão da corrupção, alcançando a
liberdade da glória dos filhos de Deus (cfr. Rom. 8,21). Grande é a
promessa, grande o mandamento que é dado aos discípulos:
«tudo é vosso; vós sois de Cristo; e
Cristo é de Deus» (1 Cor. 3,23).
Por consequência, devem os fiéis conhecer a natureza
íntima e o valor de todas as criaturas, e a sua ordenação para a glória
de Deus, ajudando-se uns aos outros, mesmo através das actividades
propriamente temporais, a levar uma vida mais santa, para que assim o
mundo seja penetrado do espírito de Cristo e, na justiça, na caridade e
na paz, atinja mais eficazmente o seu fim. Na realização plena deste
dever, os leigos ocupam o lugar mais importante. Por conseguinte, com a
sua competência nas matérias profanas, e a sua actuação interiormente
elevada pela graça de Cristo, contribuam eficazmente para que os bens
criados sejam valorizados pelo trabalho humano, pela técnica e pela
cultura para utilidade de todos os homens, sejam melhor distribuídos
entre eles e contribuam a seu modo para o progresso de todos na
liberdade humana e cristã, em harmonia com o destino que lhes deu o
Criador e segundo a iluminação do Verbo. Deste modo, por meio dos
membros da Igreja, Cristo iluminará cada vez mais a humanidade inteira
com a Sua luz salvadora.
Além disso, também pela união das próprias forças, devem
os leigos sanear as estruturas e condições do mundo, se elas porventura
propendem a levar ao pecado, de tal modo que todas se conformem às
normas da justiça e antes ajudem ao exercício das virtudes do que o
estorvem. Agindo assim, informarão de valor moral a cultura e as obras
humanas. E, por este modo, o campo, isto é, o mundo ficará mais
preparado para a semente da palavra divina e abrir-se-ão à Igreja mais
amplamente as portas para introduzir no mundo a mensagem da paz.
Devido à própria economia da salvação, devem os fiéis
aprender a distinguir cuidadosamente entre os direitos e deveres que
lhes competem como membros da Igreja e os que lhes dizem respeito
enquanto fazem parte da sociedade humana. Procurem harmonizar entre si
uns e outros, lembrando-se que se devem guiar em todas as coisas
temporais pela consciência cristã, já que nenhuma actividade humana, nem
mesmo em assuntos temporais, se pode subtrair ao domínio de Deus. É
muito necessário em nossos dias que esta distinção e harmonia se
manifestem claramente nas atitudes dos fiéis, que a missão da Igreja
possa corresponder mais plenamente às condições particulares do mundo
actual. Assim como se deve reconhecer que a cidade terrena se consagra a
justo título aos assuntos temporais e se rege por princípios próprios,
assim com razão se deve rejeitar a nefasta doutrina que pretende
construir a sociedade sem ter para nada em conta a religião, atacando e
destruindo a liberdade religiosa dos cidadãos (115)
Relações dos leigos com a Hierarquia
37. Como todos os fiéis, também os leigos têm o direito
de receber com abundância, dos sagrados pastores, os bens espirituais da
Igreja, principalmente os auxílios da palavra de Deus e dos sacramentos
(116); e com aquela liberdade e confiança que convém a filhos de Deus e
a irmãos em Cristo, manifestem-lhes as suas necessidades e aspirações.
Segundo o grau de ciência, competência e autoridade que possuam, têm o
direito, e por vezes mesmo o dever, de expor o seu parecer sobre os
assuntos que dizem respeito ao bem da Igreja (117). Se o caso o pedir,
utilizem os órgãos para isso instituídos na Igreja, e procedam sempre em
verdade, fortaleza e prudência, com reverência e amor para com aqueles
que, em razão do seu cargo, representam a pessoa de Cristo.
Como todos os cristãos, devem os leigos abraçar
prontamente, com obediência cristã, todas as coisas que os sagrados
pastores, representantes de Cristo, determinarem na sua qualidade de
mestres e guias na Igreja, a exemplo de Cristo, o qual com a Sua
obediência, levada até à morte, abriu para todos o feliz caminho da
liberdade dos filhos de Deus. Nem deixem de encomendar ao Senhor nas
suas orações os seus prelados, já que eles olham pelas nossas almas,
como devendo dar contas delas, a fim de que o façam com alegria e não
gemendo (cfr. Hebr. 13,17).
Por seu lado, os sagrados pastores devem reconhecer e
fomentar a dignidade e responsabilidade dos leigos na Igreja; recorram
espontaneamente ao seu conselho prudente, entreguem-lhes confiadamente
cargos em serviço da Igreja e dêem-lhes margem e liberdade de acção,
animando-os até a tomarem a iniciativa de empreendimentos. Considerem
atentamente e com amor paterno, em Cristo, as iniciativas, pedidos e
desejos propostos pelos leigos (118). E reconheçam a justa liberdade que
a todos compete na cidade terrestre.
Muitos bens se devem esperar destas relações confiantes
entre leigos e pastores: é que assim se fortalece nos leigos o sentido
da própria responsabilidade, fomenta-se o seu empenho é mais facilmente
se associam nas suas energias à obra dos pastores. Estes, por sua vez,
ajudados pela experiência dos leigos, tanto nas coisas espirituais como
nas temporais, mais facilmente julgarão com acerto, a fim de que a
Igreja inteira, com a energia de todos os seus membros, cumpra mais
eficazmente a sua missão para a vida do mundo.
Conclusões: os leigos vivificadores do mundo
38. Cada leigo deve ser, perante o mundo, uma testemunha
da ressurreição e da vida do Senhor Jesus e um sinal do Deus vivo. Todos
em conjunto, e cada um por sua parte, devem alimentar o mundo com frutos
espirituais (cfr. Gál. 5,22) e nele difundir aquele espírito que anima
os pobres, mansos e pacíficos, que o Senhor no Evangelho proclamou
bem-aventurados (cfr. Mt. 5, 3-9). Numa palavra, «sejam os cristãos no mundo aquilo
que a alma é no corpo» (119)
CAPÍTULO V
A VOCAÇÃO DE TODOS À SANTIDADE NA IGREJA
Proémio: chamamento universal à santidade
39. A nossa fé crê que a Igreja, cujo mistério o sagrado
Concílio expõe, é indefectivelmente santa. Com efeito, Cristo, Filho de
Deus, que é com o Pai e o Espírito ao único Santo» (120), amou a Igreja
como esposa, entregou-Se por ela, para a santificar (cfr. Ef. 5, 25-26)
e uniu-a a Si como Seu corpo, cumulando-a com o dom do Espírito Santo,
para glória de. Deus. Por isso, todos na Igreja, quer pertençam à
Hierarquia quer por ela sejam pastoreados, são chamados à santidade,
segundo a palavra do Apóstolo: «esta é a vontade de Deus, a vossa
santificação» (1 Tess. 4,3; cfr. Ef. 1,4). Esta santidade da Igreja
incessantemente se manifesta, e deve manifestar-se, nos frutos da graça
que o Espírito Santo produz nos fiéis; exprime-se de muitas maneiras em
cada um daqueles que, no seu estado de vida, tendem à perfeição da
caridade, com edificação do próximo; aparece dum modo especial na
prática dos conselhos chamados evangélicos. A prática destes conselhos,
abraçada sob a moção do Espírito Santo por muitos cristãos, quer
privadamente quer nas condições ou estados aprovados pela Igreja, leva e
deve levar ao mundo um admirável testemunho e exemplo desta santidade.
Jesus, mestre e modelo
40. Jesus, mestre e modelo divino de toda a perfeição,
pregou a santidade de vida, de que Ele é autor e consumador, a todos e a
cada um dos seus discípulos, de qualquer condição: «sede perfeitos como
vosso Pai celeste é perfeito» (Mt. 5,48) (121). A todos enviou o
Espírito Santo, que os move interiormente a amarem a Deus com todo o
coração, com toda a alma, com todo o espírito e com todas as forças
(cfr. Mc. 12,30) e a amarem-se uns aos outros como Cristo os amou (cfr.
Jo. 13,34; 15,12). Os seguidores de Cristo, chamados por Deus e
justificados no Senhor Jesus, não por merecimento próprio mas pela
vontade e graça de Deus, são feitos, pelo Baptismo da fé,
verdadeiramente filhos e participantes da natureza divina e, por
conseguinte, realmente santos. É necessário, portanto, que, com o
auxílio divino, conservem e aperfeiçoem, vivendo-a, esta santidade que
receberam. O Apóstolo admoesta-os a que vivam acorro convém a santos»
(Ef. 5,3), acorro eleitos e amados de Deus, se revistam de entranhas de
misericórdia, benignidade, humildade, mansidão e paciência» (Col. 3,12)
e alcancem os frutos do Espírito para a santificação (cfr. Gál. 5,22;
Rom. 6,22). E porque todos cometemos faltas em muitas ocasiões (Tg.
3,2), precisamos constantemente. da misericórdia de Deus e todos os dias
devemos orar: «perdoai-nos as nossas ofensas» (Mt. 6,12) (122). É, pois,
claro a todos, que os cristãos de qualquer estado ou ordem, são chamados
à plenitude da vida cristã e à perfeição da caridade (123). Na própria
sociedade terrena, esta santidade promove um modo de vida mais humano.
Para alcançar esta perfeição, empreguem os fiéis as forças recebidas
segundo a medida em que as dá Cristo, a fim de que, seguindo as Suas
pisadas e conformados à Sua imagem, obedecendo em tudo à vontade de
Deus, se consagrem com toda a alma à glória do Senhor e ao serviço do
próximo. Assim crescerá em frutos abundantes a santidade do Povo de
Deus, como patentemente se manifesta na história da Igreja, com a vida
de tantos santos.
A santidade nos diversos estados
41. Nos vários géneros e ocupações da vida, é sempre a
mesma a santidade que é cultivada por aqueles que são conduzidos pelo
Espírito de Deus e, obedientes à voz do Pai, adorando em espírito e
verdade a Deus Pai, seguem a Cristo pobre, humilde, e levando a cruz, a
fim de merecerem ser participantes da Sua glória. Cada um, segundo os
próprios dons e funções, deve progredir sem desfalecimentos pelo caminho
da fé viva, que estimula a esperança e que actua pela caridade.
Em primeiro lugar, os pastores do rebanho de Cristo, à
semelhança do sumo e eterno sacerdote, pastor e bispo das nossas almas,
desempenhem o próprio ministério santamente e com alegria, com humildade
e fortaleza; assim cumprido, também para eles será o seu ministério um
sublime meio de santificação. Escolhidos para a plenitude do sacerdócio,
receberam a graça sacramental para que, orando, sacrificando e pregando,
com toda a espécie de cuidados e serviços episcopais, realizem a tarefa
perfeita da caridade pastoral (124), sem hesitarem em oferecer a vida
pelas ovelhas e, feitos modelos do rebanho (cfr. 1 Ped. 5,3), suscitem
na Igreja, também com o seu exemplo, uma santidade cada vez maior.
Os presbíteros, à semelhança da ordem dos Bispos, de que
são a coroa espiritual (125), já que participam das suas funções por
graça de Cristo, eterno e único mediador, cresçam no amor de Deus e do
próximo com o exercício do seu dever quotidiano; guardem o vínculo da
unidade sacerdotal, abundem em toda a espécie de bens espirituais e dêem
a todos vivo testemunho de Deus (126), tornando-se émulos daqueles
sacerdotes que no decorrer dos séculos, em serviço muitas vezes humilde
e escondido, nos deixaram magnífico exemplo de santidade. O seu louvor
persevera na Igreja. Orando e oferecendo o sacrifício pelo próprio
rebanho e por todo o Povo de Deus, conforme é seu ofício, conscientes do
que fazem e imitando as realidades com que lidam (127), longe de serem
impedidos pelos cuidados, perigos e tribulações do apostolado, devem
antes por eles elevar-se a uma santidade mais alta, alimentando e
afervorando a sua acção com a abundância da contemplação, para alegria
de toda a Igreja de Deus. Todos os presbíteros, e especialmente aqueles
que por título particular da sua ordenação são chamados sacerdotes
diocesanos, lembrem-se de quanto ajudam para a sua santificação a união
fiel e a cooperação generosa com o próprio Bispo.
Na missão de graça do sumo sacerdote, participam também
de modo peculiar os ministros de ordem inferior, e sobretudo os
diáconos; servindo nos mistérios de Cristo e da Igreja (128), devem
conservar-se puros de todo o vício, agradar a Deus, atender a toda a
espécie de boas obras diante dos homens (cfr. 1 Tim. 3, 8-10. 12-13). Os
clérigos que, chamados pelo Senhor e separados a fim de ter parte com
Ele, se preparam sob a vigilância dos pastores para desempenhar os
ofícios de ministros, procurem conformar o coração e o espírito com tão
magnífica eleição, sendo assíduos na oração e fervorosos no amor,
ocupando o pensamento com tudo o que é verdadeiro, justo e de boa
reputação, fazendo tudo para glória é honra de Deus. Destes se aproximam
aqueles leigos, que, escolhidos por Deus, são chamados pelos Bispos para
se consagrarem totalmente às actividades apostólicas e com muito fruto
trabalham no campo do Senhor (129).
Os esposos e pais cristãos devem, seguindo o seu caminho
peculiar, amparar-se mutuamente na graça, com amor fiel, durante a vida
inteira, e imbuir com a doutrina cristã e as virtudes evangélicas a
prole que amorosamente receberam de Deus. Dão assim a todos exemplo de
amor incansável e generoso, edificam a comunidade fraterna e são
testemunhas e cooperadores da fecundidade da Igreja, nossa mãe, em sinal
e participação daquele amor, com que Cristo amou a Sua esposa e por ela
Se entregou (130). Exemplo semelhante é dado, mas de outro modo, pelas
pessoas viúvas ou celibatárias, que muito podem concorrer para a
santidade e acção da Igreja. Aqueles que se ocupam em trabalhos muitas
vezes duros, devem, através das tarefas humanas, aperfeiçoar-se a si
mesmos, ajudar os seus concidadãos, fazer progredir a sociedade e toda a
criação; e, ainda, imitando com operosa caridade a Cristo, cujas mãos se
exercitaram em trabalhos de operário e, em união com o Pai,
continuamente actua para a salvação de todos; alegres na esperança,
levando os fardos uns dos outros, subam com o próprio trabalho
quotidiano a uma santidade mais alta, também ela apostólica.
Todos quantos se vêem oprimidos pela pobreza, pela
fraqueza, pela doença ou tribulações várias, e os que sofrem perseguição
por amor da justiça, saibam que estão unidos, de modo especial, a Cristo
nos seus sofrimentos pela salvação do mundo; o Senhor, no Evangelho,
proclamou-os bem-aventurados e «o Deus... de toda a graça, que nos
chamou à Sua eterna glória em Cristo Jesus, depois de sofrerem um pouco,
os há-de restabelecer, confirmar e consolidar» (1 Ped. 5,10).
Todos os fiéis se santificarão cada dia mais nas
condições, tarefas e circunstâncias da própria vida e através de todas
elas, se receberem tudo com fé da mão do Pai celeste e cooperarem com a
divina vontade, manifestando a todos, na própria actividade temporal, a
caridade com que Deus amou o mundo.
A caridade. O martírio.
Os conselhos evangélicos.
A santidade no próprio estado
42. «Deus é caridade e quem permanece na caridade,
permanece em Deus e Deus nele» (1
Jo. 4,16). Ora, Deus difundiu a sua caridade nos nossos corações, por
meio do Espírito Santo, que nos foi dado (cfr. Rom. 5,5). Sendo assim, o
primeiro e mais necessário dom é a caridade, com que amamos a Deus sobre
todas as coisas e ao próximo por amor d'Ele. Para que esta caridade,
como boa semente, cresça e frutifique na alma, cada fiel deve ouvir de
bom grado a palavra de Deus, e cumprir, com a ajuda da graça, a Sua
vontade, participar frequentemente nos sacramentos, sobretudo na
Eucaristia, e nas funções sagrarias, dando-se continuamente à oração, à
abnegação de si mesmo, ao serviço efectivo de seus irmãos e a toda a
espécie de virtude; pois a caridade, vínculo da perfeição e plenitude da
lei (cfr. Col. 3,14; Rom. 13,10), é que dirige todos os meios de
santificação, os informa e leva a seu fim (131). E, pois, pela caridade
para com Deus e o próximo que se caracteriza o verdadeiro discípulo de
Cristo.
Como Jesus, Filho de Deus, manifestou o Seu amor dando a
vida por nós, assim ninguém dá maior prova de amor do que aquele que
oferece a própria vida por Ele e por seus irmãos (cfr. 1 Jo. 3,16; Jo.
15,13). Desde os primeiros tempos, e sempre assim continuará a suceder,
alguns cristãos foram chamados a dar este máximo testemunho de amor
diante de todos, e especialmente perante os perseguidores. Por esta
razão, o martírio, pelo qual o discípulo se torna semelhante ao mestre,
que livremente aceitou a morte para salvação do mundo, e a Ele se
conforma no derramamento do sangue, é considerado pela Igreja como um
dom insigne e prova suprema de amor. E embora seja concedido a poucos,
todos, porém, devem estar dispostos a confessar a Cristo diante dos
homens e a segui-l'O no caminho da cruz em meio das perseguições que
nunca faltarão à Igreja.
A santidade da Igreja é também especialmente favorecida
pelos múltiplos conselhos que o Senhor propõe no Evangelho aos Seus
discípulos (132). Entre eles sobressai o de, com o coração mais
facilmente indiviso (cfr. 1 Cor. 7, 32-34), se consagrarem só a Deus, na
virgindade ou no celibato, dom da graça divina que o Pai concede a
alguns (cfr. Mt. 19,11; 1 Cor. 7,7) (133). Esta continência perfeita,
abraçada pelo reino dos céus, foi sempre tida em grande estima pela
Igreja, como sinal e incentivo do amor e ainda como fonte privilegiada
de fecundidade espiritual no mundo.
A Igreja recorda-se também da recomendação com que o
Apóstolo, incitando os fiéis à caridade, os exorta a ter sentimentos
semelhantes aos de Jesus Cristo, o qual «Se despojou a Si próprio,
tomando a condição de escravo... feito obediente até à morte (Fil. 2,
7-8) e, «sendo rico, por nós Se fez pobre»
(2 Cor. 8,9). Sendo necessário que sempre e em todo o tempo os
discípulos imitem esta caridade e humildade de Cristo, e delas dêem
testemunho, a mãe Igreja alegra-se de encontrar no seu seio muitos
homens e mulheres que seguem mais de perto o abatimento do Salvador e
mais claramente o manifestam, abraçando a pobreza na liberdade dos
filhos de Deus e renunciando às próprias vontades: em matéria de
perfeição, sujeitam-se, por amor de Deus, ao homem, para além do que é
de obrigação, a fim de mais plenamente se conformarem a Cristo obediente
(134).
Todos os cristãos são, pois, chamados e obrigados a
tender à santidade e perfeição do próprio estado. Procurem, por isso,
ordenar rectamente os próprios afectos, para não serem impedidos de
avançar na perfeição da caridade pelo uso das coisas terrenas e pelo
apego às riquezas, em oposição ao espírito da pobreza evangélica,
segundo o conselho do Apóstolo: os que usam no mundo, façam-no como se
dele não usassem, pois é transitório o cenário deste mundo (1 Cor. 7,31
gr.) (135).
CAPÍTULO VI
OS RELIGIOSOS
Os conselhos evangélicos e o estado religioso
43. Os conselhos evangélicos de castidade consagrada a
Deus, de pobreza e de obediência, visto que fundados sobre a palavra e o
exemplo de Cristo e recomendados pelos Apóstolos, pelos Padres, Doutores
e Pastores da Igreja, são um dom divino, que a mesma Igreja recebeu do
seu Senhor e com a Sua graça sempre conserva. A autoridade da Igreja,
sob a direcção do Espírito Santo, cuidou de regular a sua prática e
também de constituir, à base deles, formas estáveis de vida. E assim
sucedeu que, como em árvore plantada por Deus e maravilhosa e variamente
ramificada no campo do Senhor, surgiram diversas formas de vida, quer
solitária quer comum, e várias famílias religiosas, que vêm aumentar as
riquezas espirituais, tanto em proveito dos seus próprios membros como
no de todo o Corpo de Cristo (136). Com efeito, essas famílias dão aos
seus membros os auxílios duma estabilidade mais firme no modo de vida,
duma doutrina segura em ordem a alcançar a perfeição, duma comunhão
fraterna na milícia de Cristo, duma liberdade robustecida pela
obediência, para assim poderem cumprir com segurança e guardar fielmente
a profissão religiosa e avançar jubilosos no caminho da caridade (137).
Tendo em conta a constituição divina hierárquica da
Igreja, este estado não é intermédio entre o estado dos clérigos e o dos
leigos; de ambos estes estados são chamados por Deus alguns cristãos, a
usufruirem um dom especial na vida da Igreja e, cada um a seu modo, a
ajudarem a sua missão salvadora (138).
Consagração ao serviço divino; o testemunho de
vida
44. Pelos votos, ou outros compromissos sagrados a eles
semelhantes, com os quais se obriga aos três mencionados conselhos
evangélicos, o cristão entrega-se totalmente ao serviço de Deus
sumamente amado, de maneira que por um título novo e especial fica
destinado ao serviço do Senhor. Já pelo Baptismo, morrera ao pecado e
fora consagrado a Deus; mas, para poder recolher frutos mais abundantes
dá graça baptismal, pretende libertar-se, pela profissão dos conselhos
evangélicos na Igreja, dos impedimentos que o poderiam afastar do fervor
da caridade e da perfeição do culto divino, é consagrado mais
intimamente ao serviço divino (139). E esta consagração será tanto mais
perfeita quanto mais a firmeza e a estabilidade dos vínculos
representarem a indissolúvel união de Cristo à Igreja, Sua esposa.
E como os conselhos evangélicos, em razão da caridade a
que conduzem (140), de modo especial unem à Igreja e ao seu mistério
aqueles que os seguem, deve também a sua vida espiritual ser consagrada
ao bem de toda ela. Daqui nasce o dever de trabalhar na implantação e
consolidação do reino de Cristo nas almas e de o levar a todas as
regiões com a oração ou também com a acção, segundo as próprias forças e
a índole da própria vocação. Por isso, a Igreja defende e favorece a
índole própria dos vários Institutos religiosos.
A profissão dos conselhos evangélicos aparece assim como
um sinal, que pode e deve atrair eficazmente todos os membros da Igreja
a corresponderem animosamente às exigências da. vocação cristã. E porque
o Povo de Deus não tem na terra a sua cidade permanente, mas vai em
demanda da futura, o estado religioso, tornando os seus seguidores mais
livres das preocupações terrenas, manifesta também mais claramente a
todos os fiéis os bens celestes, já presentes neste mundo; é assim
testemunha da vida nova é eterna, adquirida com a redenção de Cristo, e
preanuncia a ressurreição futura e a glória do reino celeste. O mesmo
estado. religioso imita mais de perto, e perpetuamente representa na
Igreja aquela forma de vida que o Filho de Deus assumiu ao entrar no
mundo para cumprir a vontade do Pai, e por Ele foi proposta aos
discípulos que O seguiam. Finalmente, o estado religioso patenteia de
modo especial a elevação do reino de Deus sobre tudo o que é terreno e
as suas relações transcendentes; e revela aos homens a grandeza do poder
de Cristo Rei e a potência infinita com que o Espírito Santo
maravilhosamente actua na Igreja.
Portanto, o estado constituído pela profissão dos
conselhos evangélicos, embora não pertença à estrutura hierárquica da
Igreja, está contudo inabalavelmente ligado à sua vida e santidade.
Regras e constituições
A relação com a Hierarquia
45. Sendo dever da Hierarquia pastorear o Povo de Deus e
conduzi-lo a abundante pastio (cfr. Ez. 34,14), a ela pertence regular
com sábias leis a prática dos conselhos evangélicos, que tanto ajudam à
perfeição da caridade para com Deus e o próximo (141). Dócil à moção do
Espírito Santo, ela acolhe as regras, propostas por homens e mulheres
eminentes é, depois de aperfeiçoadas, aprova-as autênticamente; e
assiste com vigilância e protecção de sua autoridade aos Institutos, por
toda a parte fundados para a edificação do Corpo de Cristo, para que
cresçam e floresçam segundo o espírito dos fundadores.
Para que melhor se atenda às necessidades de todo o
rebanho do Senhor, qualquer Instituto de perfeição e cada um dos seus
membros, podem ser isentos pelo Sumo Pontífice, em razão do seu primado
sobre toda a Igreja, da jurisdição do Ordinário do lugar e ficar
sujeitos só a ele, em vista do bem comum (142). Podem igualmente ser
deixados, ou confiados, à autoridade patriarcal própria. E os membros
dos Institutos de perfeição, ao cumprir o seu dever para com a Igreja,
segundo o modo peculiar da sua vida, devem, de acordo com as leis
canónicas, respeito e obediência aos Bispos, em atenção à sua autoridade
de pastores das igrejas particulares e à necessária unidade e harmonia
no trabalho apostólico (143).
Mas a Igreja não se limita a elevar, com a sua
aprovação, a profissão religiosa à dignidade de estado canónico, senão
que a manifesta também na sua liturgia como estado consagrado a Deus.
Com efeito, pela autoridade que Deus lhe concedeu, ela recebe os votos
dos que professam, implora para eles, com a sua oração pública, os
auxílios da graça, recomenda-os a Deus e concede-lhes a bênção
espiritual, unindo a sua oblação ao sacrifício eucarístico.
Pureza de vida ao serviço do mundo
46. Procurem os religiosos com empenho que, por seu
intermédio, a Igreja revele cada vez mais Cristo aos fiéis e infiéis,
Cristo orando sobre o monte, anunciando às multidões o reino de Deus,
curando os doentes e feridos, trazendo os pecadores à conversão,
abençoando as criancinhas e fazendo bem a todos, obediente em tudo à
vontade do Pai que O enviou (144).
Finalmente, tenham todos presente que a profissão dos
conselhos evangélicos, ainda que importa a renúncia a bens de grande
valor, não se opõe, contudo, ao verdadeiro desenvolvimento da pessoa
humana, más antes a favorece grandemente. Na verdade, os conselhos
evangélicos, assumidos livremente segundo a vocação pessoal de cada um,
contribuem muito para a pureza de coração e liberdade de espírito,
alimentam continuamente o fervor da caridade e, sobretudo, como bem o
demonstra o exemplo de tantos santos fundadores, podem levar o cristão a
conformar-se mais plenamente com o género de vida virginal e pobre que
Cristo Nosso Senhor escolheu para Si e a Virgem Sua mãe abraçou. Nem se
pense que os religiosos, pela sua consagração, se tornam estranhos aos
homens ou inúteis para a cidade terrena. Pois, mesmo quando não prestam
uma ajuda directa aos seus contemporâneos, têm-nos sempre presentes dum
modo mais profundo, no amor de Cristo, e colaborara espiritualmente com
eles, a fim de que a construção da cidade terrena se funde sempre no
Senhor e para Ele se oriente, não seja que trabalhem em vão os que
edificam a casa (145).
Por isso, finalmente, o sagrado Concílio confirma e
louva os homens e mulheres, Irmãos e Irmãs, que, nos mosteiros, escolas,
hospitais ou missões, embelezam a Igreja com a sua perseverante e
humilde fidelidade na mencionada consagração, e prestam generosamente
aos homens os mais variados serviços.
Conclusão: perseverança e santidade
47. Cada um dos que foram chamados à profissão dos
conselhos, cuide com empenho de perseverar na vocação a que o Senhor o
chamou, e de nela se aperfeiçoar para maior santidade da Igreja e maior
glória da una e indivisa Trindade, a qual em Cristo e por Cristo é a
fonte e origem de toda a santidade.
CAPÍTULO VII
A ÍNDOLE ESCATOLÓGICA DA IGREJA PEREGRINA
E A SUA UNIÃO COM A IGREJA CELESTE
Caráter escatológico da nossa vocação à Igreja
48. A Igreja, à qual todos somos chamados e na qual por
graça de Deus alcançamos a santidade, só na glória celeste alcançará a
sua realização acabada, quando vier o tempo da restauração de todas as
coisas (cfr. Act. 3,21) e, quando, juntamente com o género humano,
também o universo inteiro, que ao homem está intimamente ligado e por
ele atinge o seu fim, for perfeitamente restaurado em Cristo (cfr. Ef,
1,10; Col. 1,20; 2 Ped. 3, 10-13).
Na verdade, Cristo, elevado sobre a terra, atraiu todos
a Si (cfr. Jo. 12,32 gr.); ressuscitado de entre os mortos (cfr. Rom.
6,9), infundiu nos discípulos o Seu Espírito vivificador e por Ele
constituiu a Igreja, Seu corpo, como universal sacramento da salvação;
sentado à direita do Pai, actua continuamente na terra, a fim de levar
os homens à Igreja e os unir mais estreitamente por meio dela, e,
alimentando-os com o Seu próprio corpo e sangue, os tornar participantes
da Sua vida gloriosa. A prometida restauração que esperamos, já começou,
pois, em Cristo, progride com a missão do Espírito Santo e, por Ele,
continua na Igreja; nesta, a fé ensina-nos o sentido da nossa vida
temporal, enquanto, na esperança dos bens futuros, levamos a cabo a
missão que o Pai nos confiou no mundo e trabalhamos na nossa salvação
(cfr. Fil. 2,12).
Já chegou, pois, a nós, a plenitude dos tempos (cfr. 1
Cor. 10,11), a restauração do mundo foi já realizada irrevogavelmente e,
de certo modo, encontra-se já antecipada neste mundo: com efeito, ainda
aqui na terra, a Igreja está aureolada de verdadeira, embora imperfeita,
santidade. Enquanto não se estabelecem os novos céus e a nova terra em
que habita a justiça (cfr. 2 Ped. 3,13), a Igreja peregrina, nos seus
sacramentos e nas suas instituições, que pertencem à presente ordem
temporal, leva a imagem passageira deste mundo e vive no meio das
criaturas que gemem e sofrem as dores de parto, esperando a manifestação
dos filhos de Deus (cfr. Rom. 8, 19-22).
Unidos, pois, a Cristo na Igreja, e marcados com o sinal
do Espírito Santo «que é o penhor da nossa herança» (Ef. 1,14),
chamamo-nos filhos de Deus e em verdade o somos (cfr. 1 Jo. 3,1); mas
não aparecemos ainda com Cristo na glória (cfr. Col. 3,4), na qual
seremos semelhantes a Deus, porque O veremos como Ele é (cfr. 1 Jo.
3,2). E assim, «enquanto estamos no corpo, vivemos exilados, longe do
Senhor» (2 Cor. 5,6) e, tendo recebido as primícias do Espírito, gememos
no nosso íntimo (cfr. Rom. 8,23) e anelamos por estar com Cristo (cfr.
Fil. 1,23). Por este mesmo amor somos incitados a viver mais para Ele,
que por nós morreu e ressuscitou (cfr. 2 Cor. 5,15). Esforçamo-nos, por
isso, por agradar a Deus em todas as coisas (cfr. 2 Cor. 5,9) e
revestimo-nos da armadura de Deus, para podermos fazer frente às
maquinações do diabo e resistir no dia perverso (cfr. Ef. 6, 11-13).
Mas, como não sabemos o dia nem a hora, é preciso que, segundo a
recomendação do Senhor, vigiemos continuamente, a fim de que no termo da
nossa vida sobre a terra, que é só uma (cfr. Hebr. 9,27), mereçamos
entrar com Ele para o banquete de núpcias e ser contados entre os
eleitos (cfr. Mt. 25, 51-46), e não sejamos lançados, como servos maus e
preguiçosos (cfr. M t. 25,26), no fogo eterno (cfr. Mt. 25,41), nas
trevas exteriores, onde «haverá choro e ranger de dentes» (Mt. 22,13;
25,30). Com efeito, antes de reinarmos com Cristo glorioso, cada um de
nós será apresentado «perante o tribunal de Cristo, a fim de ser
remunerado pelas obras que realizou enquanto vivia no corpo, boas ou
más» (2 Cor. 5,10); e, no fim do mundo, «os que tiverem feito boas
obras, irão para a ressurreição da vida, os que tiverem praticado más
acções, para a ressurreição da condenação (Jo. 5,29; cfr. Mt. 25,46).
Pensando, pois, que «os sofrimentos desta vida não têm proporção com a
glória que se há-de revelar em nós» (Rom. 8,18; cfr. 2 Tim. 2, 11-12),
fortalecidos pela fé, aguardamos «a bem-aventurada esperança e a vinda
gloriosa do grande Deus e salvador nosso Jesus Cristo), (Tit. 2,13), «o
qual transformará o nosso corpo miserável, tornando-o conforme ao Seu
corpo glorioso), (Fil. 3,21) e virá «ser glorificado nos Seus santos e
admirado em todos os que acreditaram), (2 Tess. 1,10).
União da Igreja celeste com a Igreja peregrina
49. Deste modo, enquanto o Senhor não vier na Sua
majestade e todos os Seus anjos com Ele (cfr. Mt. 25,31) e, vencida a
morte, tudo Lhe for submetido (cfr. 1 Cor. 15, 26-27), dos Seus
discípulos uns peregrinam sobre a terra, outros, passada esta vida, são
purificados, outros, finalmente, são glorificados e contemplam
«claramente Deus trino e uno, como Ele é»(146); todos, porém,
comungamos, embora em modo e grau diversos, no mesmo amor de Deus e do
próximo, e todos entoamos ao nosso Deus o mesmo hino de louvor. Com
efeito, todos os que são de Cristo e têm o Seu Espírito, estão unidos
numa só Igreja e ligados uns aos outros n'Ele (cfr. Ef. 4,16). E assim,
de modo nenhum se interrompe a união dos que ainda caminham sobre a
terra com os irmãos que adormeceram na paz de Cristo, mas antes, segundo
a constante fé da Igreja, é reforçada pela comunicação dos bens
espirituais (147). Porque os bem-aventurados, estando mais ìntimamente
unidos com Cristo, consolidam mais firmemente a Igreja na santidade,
enobrecem o culto que ela presta a Deus na terra, e contribuem de muitas
maneiras para a sua mais ampla edificação em Cristo (cfr. 1 Cor. 12,
12-27) (148). Recebidos na pátria celeste e vivendo junto do Senhor
(cfr. 2 Cor. 5,8), não cessam de interceder, por Ele, com Ele e n'Ele, a
nosso favor diante do Pai (149), apresentando os méritos que na terra
alcançaram, graças ao mediador único entre Deus e os homens, Jesus
Cristo (cfr. 1 Tim., 2,5), servindo ao Senhor em todas as coisas e
completando o que falta aos sofrimentos de Cristo, em favor do Seu corpo
que é a Igreja (cfr. Col. 1,24) (150). A nossa fraqueza é assim
grandemente ajudada pela sua solicitude de irmãos.
Expressões dessa união:
orações pelos defuntos, culto dos santos
50. Reconhecendo claramente esta comunicação de todo o
Corpo místico de Cristo, a Igreja dos que ainda peregrinam, cultivou com
muita piedade desde os primeiros tempos do Cristianismo a memória dos
defuntos (151) e, «porque é coisa santa e salutar rezar pelos mortos,
para que sejam absolvidos de seus pecados» (2 Mac. 12,46), por eles
ofereceu também sufrágios. Mas, os apóstolos e mártires de Cristo que,
derramando o próprio sangue, deram o supremo testemunho de fé e de
caridade, sempre a Igreja acreditou estarem mais ligados connosco em
Cristo, os venerou com particular afecto, juntamente com a
Bem-aventurada Virgem Maria e os santos Anjos (152) e implorou o auxílio
da sua intercessão. Aos quais bem depressa foram associados outros, que
mais de perto imitaram a virgindade e pobreza de Cristo (153) e,
finalmente, outros, cuja perfeição nas virtudes cristãs (154) e os
carismas divinos recomendavam à piedosa devoção dos fiéis (155).
Com efeito, a vida daqueles que fielmente seguiram a
Cristo, é um novo motivo que nos entusiasma a buscar a cidade futura
(cfr. Hebr. 14,14; 11,10) e, ao mesmo tempo, nos ensina um caminho
seguro, pelo qual, por entre as efémeras realidades deste mundo e
segundo o estado e condição próprios de cada um, podemos chegar à união
perfeita com Cristo, na qual consiste a santidade (156). É sobretudo na
vida daqueles que, participando connosco da natureza humana, se
transformam, porém, mais perfeitamente à imagem de Cristo, (cfr. 2 Cor.
3,18) que Deus revela aos homens, de maneira mais viva, a Sua presença e
a Sua face. Neles nos fala, e nos dá um sinal do Seu reino (157), para o
qual, rodeados de uma tão grande nuvem de testemunhas (cfr. Hebr. 12,1)
e tendo uma tal afirmação da verdade do Evangelho, somos fortemente
atraídos.
Porém, não é só por causa de seu exemplo que veneramos a
memória dos bem-aventurados, mas ainda mais para que a união de toda a
Igreja aumente com o exercício da caridade fraterna (cfr. Ef. 4, 1-6).
Pois, assim como a comunhão cristã entre os peregrinos nos aproxima mais
de Cristo, assim a comunhão com os santos nos une a Cristo, de quem
procedem, como de fonte e cabeça, toda a graça e ã própria vida do Povo
de Deus(158).
É, portanto, muito justo que amemos estes amigos e
co-herdeiros de Jesus Cristo, nossos irmãos e grandes benfeitores, que
dêmos a Deus, por eles, as devidas graças (159), «lhes dirijamos as
nossas súplicas e recorramos às suas orações, ajuda e patrocínio, para
obter de Deus os benefícios, por Seu Filho Jesus Cristo, Nosso Senhor e
Redentor e Salvador único» (160) Porque todo o genuíno testemunho de
veneração que prestamos aos santos, tende e leva, por sua mesma
natureza, a Cristo, que é a «coroa
de todos os santos» (161) e, por Ele, a Deus, que é admirável nos seus
santos e neles é glorificado (162).
Mas a nossa união com a Igreja celeste realiza-se de
modo mais sublime. quando, sobretudo na sagrada Liturgia, na qual a
virtude do Espírito Santo actua sobre nós através dos sinais
sacramentais, concelebramos em comum exultação os louvores da divina
Majestade (163) e, todos de todas as tribos, línguas e povos, remidos no
sangue de Cristo (cfr. Apoc. 5,9) e reunidos numa única Igreja,
engrandecemos com um único canto de louvor o Deus uno e trino. Assim, ao
celebrar o sacrifício eucarístico, unimo-nos no mais alto grau ao culto
da Igreja celeste, comungando e venerando a memória, primeiramente da
gloriosa sempre Virgem Maria, de S. José, dos santos Apóstolos e
mártires e de todos os santos (164).
Unidade no amor e na Liturgia
51. Esta venerável fé dos nossos maiores acerca da nossa
união vital com os irmãos que já estão na glória celeste ou que, após a
morte, estão ainda em purificação, aceita-a este sagrado Concílio com
muita piedade e de novo propõe os decretos dos sagrados Concílios Niceno
II (167), Florentino (165) e Tridentino (166). Ao mesmo tempo, com
solicitude pastoral, exorta todos aqueles a quem isto diz respeito a
esforçarem-se por desterrar ou corrigir os abusos, excessos ou defeitos
que porventura tenham surgido aqui ou além, e tudo restaurem para maior
glória de Cristo e de Deus. Ensinem, portanto, aos fiéis que o
verdadeiro culto dos santos não consiste tanto na multiplicação dos
actos externos quanto na intensidade do nosso amor efectivo, pelo qual,
para maior bem nosso e da Igreja, procuramos «na vida dos santos um exemplo, na
comunhão com eles uma participação, e na sua intercessão uma ajuda»
(168). Por outro lado, mostrem aos fiéis que as nossas relações com os
bem-aventurados, quando concebidas à luz da fé, de modo algum diminuem o
culto de adoração prestado a Deus pai por Cristo, no Espírito, mas pelo
contrário o enriquecem ainda mais (169).
Pois, com efeito, todos os que somos filhos de Deus, e
formamos em Cristo uma família (cfr. Hebr. 3,6), ao comunicarmos na
caridade mútua e no comum louvor da Trindade Santíssima, correspondemos
à íntima vocação da Igreja e participamos, prelibando-a, na liturgia da
glória (170), Com efeito, quando Cristo aparecer e se der a gloriosa
ressurreição dos mortos, a luz de Deus iluminará a cidade celeste e o
seu candelabro será o Cordeiro (cfr. Apoc. 21,24). Então, toda a Igreja
dos santos, na suprema felicidade da caridade, adorará a Deus e ao
«Cordeiro que foi imolado» (Apoc. 5,12), proclamando numa só voz:
«louvor, honra, glória e poderio, pelos séculos dos séculos, Aquele que
está sentado no trono, e ao Cordeiro» (Apoc. 5, 13-14).
CAPÍTULO VIII
A BEM-AVENTURADA VIRGEM MARIA MÃE DE DEUS
NO MISTÉRIO DE CRISTO E DA IGREJA
I. PROÉMIO
A Virgem mãe de Cristo
52. Querendo Deus, na Sua infinita benignidade e
sabedoria, levar a cabo a redenção do mundo, «ao chegar a plenitude dos
tempos, enviou Seu Filho, nascido de mulher,... a fim de recebermos a
filiação adoptiva» (Gál. 4, 4-5). «Por amor de nós, homens, e para nossa
salvação, desceu dos céus e encarnou na Virgem Maria, por obra e graça
do Espírito Santo» (171). Este
divino mistério da salvação é-nos relevado e continua na Igreja,
instituída pelo Senhor como Seu corpo; nela, os fiéis, aderindo à cabeça
que é Cristo, e em comunhão com todos os santos, devem também venerar a
memória «em primeiro lugar da gloriosa sempre Virgem Maria Mãe do nosso
Deus e Senhor Jesus Cristo» (172).
A Virgem e a Igreja
53. Efectivamente, a Virgem Maria, que na anunciação do
Anjo recebeu o Verbo no coração e no seio, e deu ao mundo a Vida, é
reconhecida e honrada como verdadeira Mãe de Deus Redentor. Remida dum
modo mais sublime, em atenção aos méritos de seu Filho, e unida a Ele
por um vínculo estreito e indissolúvel, foi enriquecida com a excelsa
missão e dignidade de Mãe de Deus Filho; é, por isso, filha predilecta
do Pai e templo do Espírito Santo, e, por este insigne dom da graça,
leva vantagem á todas as demais criaturas do céu e da terra. Está,
porém, associada, na descendência de Adão, a todos os homens
necessitados de salvação; melhor, «é
verdadeiramente Mãe dos membros (de Cristo)..., porque cooperou com o
seu amor para que na Igreja nascessem os fiéis, membros daquela cabeça»
(173). É, por esta razão, saudada como membro eminente e inteiramente
singular da Igreja, seu tipo e exemplar perfeitíssimo na fé e na
caridade; e a Igreja católica, ensinada pelo Espírito Santo,
consagra-lhe, como a mãe amantíssima, filial afecto de piedade.
Intenção do Concílio
54. Por isso, o sagrado Concílio, ao expor a doutrina
acerca da Igreja, na qual o divino Redentor realiza a salvação, pretende
esclarecer cuidadosamente não só o papel da Virgem Santíssima no
mistério do Verbo encarnado e do Corpo místico, mas também os deveres
dos homens resgatados para com a Mãe de Deus, Mãe de Cristo e Mãe dos
homens, sobretudo dos fiéis. Não tem, contudo, intenção de propor toda a
doutrina acerca de Maria, nem de dirimir as questões ainda não
totalmente esclarecidas pelos teólogos. Conservam, por isso, os seus
direitos as opiniões que nas escolas católicas livremente se propõem
acerca daquela que na santa Igreja ocupa depois de Cristo o lugar mais
elevado e também o mais próximo de nós (174).
II. A VIRGEM SANTÍSSIMA NA ECONOMIA
DA SALVAÇÃO
A mãe do Redentor no Antigo Testamento
55. A Sagrada Escritura do Antigo e Novo Testamento e a
venerável Tradição mostram de modo progressivamente mais claro e como
que nos põem diante dos olhos o papel da Mãe do Salvador na economia da
salvação. Os livros do Antigo Testamento descrevem a história da
salvação na qual se vai preparando lentamente a vinda de Cristo ao
mundo. Esses antigos documentos, tais como são lidos na Igreja e
interpretados à luz da plena revelação ulterior, vão pondo cada vez mais
em evidência a figura duma mulher, a Mãe do Redentor. A esta luz, Maria
encontra-se já profeticamente delineada na promessa da vitória sobre a
serpente (cfr. Gén. 3,15), feita aos primeiros pais caídos no pecado.
Ela é, igualmente, a Virgem que conceberá e dará à luz um Filho, cujo
nome será Emmanuel (cfr. Is. 7,14; cfr. Miq. 5, 2-3; Mt. 1, 22-23). É a
primeira entre os humildes e pobres do Senhor, que confiadamente esperam
e recebem a salvação de Deus. Com ela, enfim, excelsa Filha de Sião,
passada a longa espera da promessa, se cumprem os tempos e se inaugura a
nova economia da salvação, quando o Filho de Deus dela recebeu a
natureza humana, para libertar o homem do pecado com os mistérios da Sua
vida terrena.
Maria na Anunciação
56. Mas o Pai das misericórdias quis que a aceitação,
por parte da que Ele predestinara para mãe, precedesse a encarnação,
para que, assim como uma mulher contribuiu para a morte, também outra
mulher contribuisse para a vida. É o que se verifica de modo sublime na
Mãe de Jesus, dando à luz do mundo a própria Vida, que tudo renova. Deus
adornou-a com dons dignos de uma tão grande missão; e, por isso, não é
de admirar que os santos Padres chamem com frequência à Mãe de Deus
«toda santa»
e «imune de toda a mancha de pecado»,
visto que o próprio Espírito Santo a modelou e d'Ela fez uma nova
criatura (175). Enriquecida, desde o primeiro instante da sua conceição,
com os esplendores duma santidade singular, a Virgem de Nazaré é saudada
pelo Anjo, da parte de Deus, como «cheia
de graça» (cfr. Luc. 1,28); e responde ao mensageiro celeste:
«eis a escrava do Senhor, faça-se em
mim segundo a tua palavra» (Luc.
1,38). Deste modo, Maria, filha de Adão, dando o seu consentimento à
palavra divina, tornou-se Mãe de Jesus e, não retida por qualquer
pecado, abraçou de todo o coração o desígnio salvador de Deus,
consagrou-se totalmente, como escrava do Senhor, à pessoa e à obra de
seu Filho, subordinada a Ele e juntamente com Ele, servindo pela graça
de Deus omnipotente o mistério da Redenção. por isso, consideram com
razão os santos Padres que Maria não foi utilizada por Deus como
instrumento meramente passivo, mas que cooperou livremente, pela sua fé
e obediência, na salvação dos homens. Como diz S. Ireneu,
«obedecendo, ela tornou-se causa de
salvação, para si e para todo o género humano» (176). Eis porque não
poucos, Padres afirmam com ele, nas suas pregações, que
«o no da desobediência de Eva foi
desatado pela obediência de Maria; e aquilo que a virgem Eva atou, com a
sua incredulidade, desatou-o a virgem Maria com a sua fé» (177); e, por
comparação com Eva, chamam Maria a «mãe
dos vivos»(178) e afirmam muitas
vezes: «a morte veio por Eva, a vida
veio por Maria» (179).
Maria na infância de Jesus
57. Esta associação da mãe com o Filho na obra da
salvação, manifesta-se desde a conceição virginal de Cristo até à Sua
morte. Primeiro, quando Maria, tendo partido solicitamente para visitar
Isabel, foi por ela chamada bem-aventurada, por causa da fé com que
acreditara na salvação prometida, e o precursor exultou no seio de sua
mãe (cfr. Luc. 1, 41-45); depois, no nascimento, quando a Mãe de Deus,
cheia de alegria, apresentou aos pastores e aos magos o seu Filho
primogénito, o qual não só não lesou a sua integridade, mas antes a
consagrou (180). E quando O apresentou no templo ao Senhor, com a oferta
dos pobres, ouviu Simeão profetizar que o Filho viria a ser sinal de
contradição e que uma espada trespassaria o coração da mãe, a fim de se
revelarem os pensamentos de muitos (cfr. Luc. 2, 34-35). Ao Menino
Jesus, perdido e buscado com aflição, encontraram-n'O os pais no templo,
ocupado nas coisas de Seu Pai; e não compreenderam o que lhes disse. Mas
sua mãe conservava todas estas coisas no coração e nelas meditava (cfr.
Luc. 2, 41-51).
Maria na vida pública e na paixão de Cristo
58. Na vida pública de Jesus, Sua mãe aparece duma
maneira bem marcada logo no princípio, quando, nas bodas de Caná, movida
de compaixão, levou Jesus Messias a dar início aos Seus milagres.
Durante a pregação de Seu Filho, acolheu as palavras com que Ele, pondo
o reino acima de todas as relações de parentesco, proclamou
bem-aventurados todos os que ouvem a palavra de Deus e a põem em prática
(cfr. Mc. 3,35 e paral.; Luc. 11, 27-28); coisa que ela fazia fielmente
(cfr. Luc. 2, 19 e 51). Assim avançou a Virgem pelo caminho da fé,
mantendo fielmente a. união com seu Filho até à cruz. Junto desta
esteve, não sem desígnio de Deus (cfr. Jo.19,25), padecendo acerbamente
com o seu Filho único, e associando-se com coração de mãe ao Seu
sacrifício, consentindo com amor na imolação da vítima que d'Ela
nascera; finalmente, Jesus Cristo, agonizante na cruz, deu-a por mãe ao
discípulo, com estas palavras: mulher, eis aí o teu filho (cfr. Jo. 19,
26-27) (181).
Maria depois da Ascensão
59. Tendo sido do agrado de Deus não manifestar
solenemente o mistério da salvação humana antes que viesse o Espírito
prometido por Cristo, vemos que, antes do dia de Pentecostes, os
Apóstolos «perseveravam unânimemente em oração, com as mulheres, Maria
Mãe de Jesus e Seus irmãos» (Act. 1,14), implorando Maria, com as suas
orações, o dom daquele Espírito, que já sobre si descera na anunciação.
Finalmente, a Virgem Imaculada, preservada imune de toda a mancha da
culpa original (198), terminado o curso da vida terrena, foi elevada ao
céu em corpo e alma (183) e exaltada por Deus como rainha, para assim se
conformar mais plenamente com seu Filho, Senhor dos senhores (cfr. Apoc.
19,16) e vencedor do pecado e da morte (184).
III. A VIRGEM SANTÍSSIMA E A IGREJA
O influxo salutar de Maria e a mediação de Cristo
60. O nosso mediador é só um, segundo a palavra do
Apóstolo: «não há senão um Deus e um mediador entre Deus e os homens, o
homem Jesus Cristo, que Se entregou a Si mesmo para redenção de todos (1
Tim. 2, 5-6). Mas a função maternal de Maria em relação aos homens de
modo algum ofusca ou diminui esta única mediação de Cristo; manifesta
antes a sua eficácia. Com efeito, todo o influxo salvador da Virgem
Santíssima sobre os homens se deve ao beneplácito divino e não a
qualquer necessidade; deriva da abundância dos méritos de Cristo,
funda-se na Sua mediação e dela depende inteiramente, haurindo aí toda a
sua eficácia; de modo nenhum impede a união imediata dos fiéis com
Cristo, antes a favorece.
A maternidade espiritual
61. A Virgem Santíssima, predestinada para Mãe de Deus
desde toda a eternidade simultâneamente com a encarnação do Verbo, por
disposição da divina Providência foi na terra a nobre Mãe do divino
Redentor, a Sua mais generosa cooperadora e a escrava humilde do Senhor.
Concebendo, gerando e alimentando a Cristo, apresentando-O ao Pai no
templo, padecendo com Ele quando agonizava na cruz, cooperou de modo
singular, com a sua fé, esperança e ardente caridade, na obra do
Salvador, para restaurar nas almas a vida sobrenatural. É por esta razão
nossa mãe na ordem da graça.
A natureza da sua mediação
62. Esta maternidade de Maria na economia da graça
perdura sem interrupção, desde o consentimento, que fielmente deu na
anunciação e que manteve inabalável junto à cruz, até à consumação
eterna de todos os eleitos. De facto, depois de elevada ao céu, não
abandonou esta missão salvadora, mas, com a sua multiforme intercessão,
continua a alcançar-nos os dons da salvação eterna (185). Cuida, com
amor materno, dos irmãos de seu Filho que, entre perigos e angústias,
caminham ainda na terra, até chegarem à pátria bem-aventurada. Por isso,
a Virgem é invocada na Igreja com os títulos de advogada, auxiliadora,
socorro, medianeira (186). Mas isto entende-se de maneira que nada tire
nem acrescente à dignidade e eficácia do único mediador, que é Cristo
(187).
Efectivamente, nenhuma criatura se pode equiparar ao
Verbo encarnado e Redentor; mas, assim como o sacerdócio de Cristo é
participado de diversos modos pelos ministros e pelo povo fiel, e assim
como a bondade de Deus, sendo uma só, se difunde vàriamente pelos seres
criados, assim também a mediação única do Redentor não exclui, antes
suscita nas criaturas cooperações diversas, que participam dessa única
fonte.
Esta função subordinada de Maria, não hesita a Igreja em
proclamá-la; sente-a constantemente e inculca-a aos fiéis, para mais
intimamente aderirem, com esta ajuda materna, ao seu mediador e
salvador.
Maria tipo da Igreja como Virgem e Mãe
63. Pelo dom e missão da maternidade divina, que a une a
seu Filho Redentor, e pelas suas singulares graças e funções, está
também a Virgem intimamente ligada, à Igreja: a Mãe de Deus é o tipo e a
figura da Igreja, na ordem da fé, da caridade e da perfeita união com
Cristo, como já ensinava S. Ambrósio (188). Com efeito, no mistério da
Igreja, a qual é também com razão chamada mãe e virgem, a bem-aventurada
Virgem Maria foi adiante, como modelo eminente e único de virgem e de
mãe (189). Porque, acreditando e obedecendo, gerou na terra, sem ter
conhecido varão, por obra e graça do Espírito Santo, o Filho do eterno
Pai; nova Eva, que acreditou sem a mais leve sombra de dúvida, não na
serpente antiga, mas no mensageiro celeste. E deu à luz um Filho, que
Deus estabeleceu primogénito de muitos irmãos (Rom. 8,29), isto é, dos
fiéis, para cuja geração e educação Ela coopera com amor de mãe.
A fecundidade virginal da Igreja
64. Por sua vez, a Igreja que contempla a sua santidade
misteriosa e imita a sua caridade, cumprindo fielmente a vontade do Pai,
toma-se também, ela própria, mãe, pela fiel recepção da palavra de Deus:
efectivamente, pela pregação e pelo Baptismo, gera, para vida nova e
imortal, os filhos concebidos por acção do Espírito Santo e nascidos de
Deus. E também ela é virgem, pois guarda fidelidade total e pura ao seu
Esposo e conserva virginalmente, à imitação da Mãe do seu Senhor e por
virtude do Espírito Santo, uma fé íntegra, uma sólida esperança e uma
verdadeira caridade (190).
Virtudes de Maria
65. Mas, ao passo que, na Santíssima Virgem, a Igreja
alcançou já aquela perfeição sem mancha nem ruga que lhe é própria (cfr.
Ef. 5,27), os fiéis ainda têm de trabalhar por vencer o pecado e crescer
na santidade; e por isso levantam os olhos para Maria, que brilha como
modelo de virtudes sobre toda a família dos eleitos. A Igreja, meditando
piedosamente na Virgem, e contemplando-a à luz do Verbo feito homem,
penetra mais profundamente, cheia de respeito, no insondável mistério da
Encarnação, e mais e mais se conforma com o seu Esposo. Pois Maria, que
entrou intimamente na história da salvação, e, por assim dizer, reune em
si e reflecte os imperativos mais altos da nossa fé, ao ser exaltada e
venerada, atrai os fiéis ao Filho, ao Seu sacrifício e ao amor do Pai.
Por sua parte, a Igreja, procurando a glória de Cristo, torna-se mais
semelhante àquela que é seu tipo e sublime figura, progredindo
continuamente na fé, na esperança e na caridade, e buscando e fazendo em
tudo a vontade divina. Daqui vem igualmente que, na sua acção
apostólica, a Igreja olha com razão para aquela que gerou a Cristo, o
qual foi concebido por acção do Espírito Santo e nasceu da Virgem
precisamente para nascer e crescer também no coração dos fiéis, por meio
da Igreja. E, na sua vida, deu a Virgem exemplo daquele afecto maternal
de que devem estar animados todos quantos cooperam na missão apostólica
que a Igreja tem de regenerar os homens.
IV. O CULTO DA BEM-AVENTURADA VIRGEM
NA IGREJA
Natureza e fundamento do culto
66. Exaltada por graça do Senhor e colocada, logo a
seguir a seu Filho, acima de todos os anjos e homens, Maria que, como
mãe santíssima de Deus, tomou parte nos mistérios de Cristo, é com razão
venerada pela Igreja com culto especial. E, na verdade, a Santíssima
Virgem é, desde os tempos mais antigos, honrada com o título de «Mãe de Deus», e sob a sua protecção
se acolhem os fiéis, em todos os perigos e necessidades (191). Foi
sobretudo a partir do Concílio do Éfeso que o culto do Povo de Deus para
com Maria cresceu admiràvelmente, na veneração e no amor, na invocação e
na imitação, segundo as suas proféticas palavras: «Todas as gerações me proclamarão
bem-aventurada, porque realizou em mim grandes coisas Aquele que é
poderoso» (Luc.1,48). Este culto,
tal como sempre existiu na Igreja, embora inteiramente singular, difere
essencialmente do culto de adoração, que se presta por igual ao Verbo
encarnado, ao Pai e ao Espírito Santo, e favorece-o poderosamente. Na
verdade, as várias formas de piedade para com a Mãe de Deus, aprovadas
pela Igreja, dentro dos limites de sã e recta doutrina, segundo os
diversos tempos e lugares e de acordo com a índole e modo de ser dos
fiéis, têm a virtude de fazer com que, honrando a mãe, melhor se
conheça, ame e gloria fique o Filho, por quem tudo existe (cfr. Col. 1,
15-16) e no qual «aprouve a Deus que residisse toda a plenitude» (Col.
1,19), e também melhor se cumpram os seus mandamentos.
Espírito da pregação e do culto
67. Muito de caso pensado ensina o sagrado Concílio esta
doutrina católica, e ao mesmo tempo recomenda a todas os filhos da
Igreja que fomentem generosamente o culto da Santíssima Virgem,
sobretudo o culto litúrgico, que tenham em grande estima as práticas e
exercícios de piedade para com Ela, aprovados no decorrer dos séculos
pelo magistério, e que mantenham fielmente tudo aquilo que no passado
foi decretado acerca do culto das imagens de Cristo, da Virgem e dos
santos (192). Aos teólogos e pregadores da palavra de Deus, exorta-os
instantemente a evitarem com cuidado, tanto um falso exagero como uma
demasiada estreiteza na consideração da dignidade singular da Mãe de
Deus (193). Estudando, sob a orientação do magistério, a Sagrada
Escritura, os santos Padres e Doutores, e as liturgias das Igrejas,
expliquem como convém as funções e os privilégios da Santíssima Virgem,
os quais dizem todos respeito a Cristo, origem de toda a verdade,
santidade e piedade. Evitem com cuidado, nas palavras e atitudes, tudo o
que possa induzir em erro acerca da autêntica doutrina da Igreja os
irmãos separados ou quaisquer outros. E os fiéis lembrem-se de que a
verdadeira devoção não consiste numa emoção estéril e passageira, mas
nasce da fé, que nos faz reconhecer a grandeza da Mãe de Deus e nos
incita a amar filialmente a nossa mãe e a imitar as suas virtudes.
V. MARIA, SINAL DE SEGURA ESPERANÇA
E DE CONSOLAÇÃO
PARA O POVO DE DEUS PEREGRINANTE
Sinal de Esperança e de consolação
68. Entretanto, a Mãe de Jesus, assim como, glorificada
já em corpo e alma, é imagem e início da Igreja que se há-de consumar no
século futuro, assim também, na terra, brilha como sinal de esperança
segura e de consolação, para o Povo de Deus ainda peregrinante, até que
chegue o dia do Senhor (cfr. 2 Ped. 3,10).
Medianeira para a unidade da Igreja
69. E é uma grande alegria e consolação para este
sagrado Concílio o facto de não faltar entre os irmãos separados quem
preste à Mãe do Senhor e Salvador o devido culto; sobretudo entre os
Orientais, que acorrem com fervor e devoção a render culto à sempre
Virgem Mãe de Deus (194). Dirijam todos os fiéis instantes súplicas à
Mãe de Deus e mãe dos homens, para que Ela, que assistiu com suas
orações aos começos da Igreja, também agora, exaltada sobre todos os
anjos e bem-aventurados, interceda, junto de seu Filho, na comunhão de
todos os santos, até que todos os povos, tanto os que ostentam o nome
cristão, como os que ainda ignoram o Salvador, se reunam felizmente, em
paz e harmonia, no único Povo de Deus, para glória da santíssima e
indivisa Trindade.
Roma, 21 de Novembro de 1964.
PAPA PAULO VI
NOTIFICAÇÕES FEITAS PELO
EX.MO SECRETÁRIO GERAL
DO SAGRADO CONCÍLIO,
NA CONGREGAÇÃO GERAL CXXIII,
NO DIA 16 DE NOVEMBRO DE 1964
Notificações: valor teológico das proposições
Foi perguntado qual deve ser a qualificação teológica
da doutrina exposta no esquema De Ecclesia que se propõe à
votação. A Comissão Doutrinal respondeu à pergunta ao examinar os
Modos referentes ao capítulo terceiro do esquema De Ecclesia,
com estas palavras:
«Como é evidente, o texto conciliar deve sempre ser
interpretado segundo as regras gerais, de todos conhecidas». A Comissão
Doutrinal, nesta ocasião, remete para a sua Declaração do dia 6 de Março
de 1964, cujo texto se transcreve aqui:
«Tendo em conta a praxe conciliar e o fim pastoral do
presente Concilio, este sagrado Concilio só define aquelas coisas
relativas à fé e aos costumes que abertamente declarar como de fé.
Tudo o mais que o sagrado Concílio propõe, como doutrina
do supremo Magistério da Igreja, devem-no os fiéis receber e abraçar
segundo a mente do mesmo sagrado Concílio, a qual se deduz quer do
assunto em questão, quer do modo de dizer, segundo as normas da
interpretação teológica».
Por autoridade superior comunica-se aos Padres uma
nota prévia explicativa dos «Modos»
referentes ao capítulo terceiro do esquema
De Ecclesia; é segundo
o espírito e o sentido desta nota que se deve explicar e entender a
doutrina exposta nesse capítulo terceiro.
NOTA
EXPLICATIVA PRÉVIA
«A Comissão decidiu fazer preceder das seguintes
observações gerais o exame dos Modos:
1° Colégio não se entende em sentido jurídico
estrito, ou seja, de um grupo de iguais, que delegam o seu poder ao
que preside; mas no sentido de um grupo estável, cuja estrutura e
autoridade se devem deduzir da Revelação. Por isso, na resposta ao Modo
12, se diz expressamente, acerca dos Doze, que o Senhor constituiu-os em
Colégio ou grupo estável. Cfr. também o Modo 53, c. - Pelo mesmo
motivo, ao tratar-se do Colégio dos Bispos, são também empregados a cada
passo os termos Ordem ou Corpo. O paralelismo entre Pedro e os
restantes Apóstolos por um lado, e o Sumo Pontífice e os Bispos pelo
outro, não implica a transmissão do poder extraordinário dos Apóstolos
aos seus sucessores, nem, como é evidente, a igualdade entre a
Cabeça e os membros do Colégio, mas apenas uma proporcionalidade
entre a primeira relação (Pedro-Apóstolos) e a segunda (Papa-Bispos).
Daí ter a Comissão resolvido escrever no inicio do n.° 22 «pari
ratione» e não « eadem ratione». Cfr. Modo 57.
2.° Uma pessoa torna-se membro do Colégio em
virtude da sagração episcopal e pela comunhão hierárquica com a Cabeça e
com os membros do Colégio. Cfr. n.° 22, no fim da primeira alínea.
Na sagração é conferida a participação
ontológica nos ofícios sagrados, como indubitàvelmente consta da
Tradição, mesmo litúrgica. Intencionalmente se emprega a palavra
munerum e não potestatum, porque esta última palavra poderia
entender-se como poder apto para o exercício. Ora, para que tal
poder exista, deve sobrevir a determinação canónica ou
jurídica, por parte da autoridade hierárquica. Esta determinação do
poder pode consistir na concessão de um ofício particular ou na
atribuição de súbditos, e é dada segundo as normas aprovadas pela
autoridade suprema. Essa norma ulterior é exigida pela própria
natureza das coisas, visto tratar-se de poderes que devem ser
exercidos por diversas pessoas que, segundo a vontade de Cristo,
cooperam hieràrquicamente. E evidente que esta «comunhão» sé foi
exercendo na vida da Igreja, segundo as circunstâncias dos
tempos, mesmo antes de, por assim dizer, ser codificada no direito.
Por isso mesmo se diz expressamente que se requer a
comunhão hierárquica com a Cabeça e membros da Igreja. A
comunhão é um conceito tido em grande veneração na antiga Igreja (e
ainda hoje, sobretudo no Oriente). Não se trata, porém, de um
sentimento vago, mas de uma realidade orgânica, que exige uma
forma jurídica e é ao mesmo tempo animada pela caridade. Por isso a
Comissão resolveu, quase por unanimidade, que se devia escrever: «pela
comunhão hierárquica». Cfr. Modo 40 e também o que se diz acerca
da missão canónica, no n. 24.
Os documentos dos últimos Sumos Pontífices acerca da
jurisdição dos Bispos, devem ser interpretados segundo esta determinação
necessária dos poderes.
3.° Diz-se que o Colégio, que não pode existir sem
cabeça, «é também sujeito do supremo e pleno poder sobre toda a
Igreja». Isto tem de se admitir necessàriamente, para que a
plenitude do poder do Romano Pontífice não seja posta em questão. O
Colégio, com efeito, entende-se sempre e necessàriamente com a sua
Cabeça, a qual, no Colégio, conserva integralmente o seu cargo de
Vigário de Cristo e Pastor da Igreja Universal. Por outras palavras,
a distinção não se faz entre o Romano Pontífice e os Bispos, tomados
colectivamente, mas entre o Romano Pontífice só, e o Romano Pontífice
juntamente com os Bispos. E uma vez que o Sumo Pontífice é a Cabeça
do Colégio, só ele pode executar certos actos, que de modo nenhum
competem aos Bispos como, por exemplo, convocar e dirigir o Colégio,
aprovar normas de acção, etc. Cfr. Modo 81.
Ao juízo do Sumo Pontífice, a quem foi entregue o
cuidado de todo o rebanho de Cristo, compete, segundo as necessidades da
Igreja, que variam no decurso dos tempos, determinar o modo mais
conveniente de actuar esse cuidado, quer essa actuação se faça de modo
pessoal quer de modo colegial. Quanto a ordenar, promover e aprovar o
exercício colegial, procede o Romano Pontífice segundo a sua própria
discrição.
4.° O Sumo Pontífice, visto ser o Pastor supremo da
Igreja, pode exercer, como lhe aprouver, o seu poder ern todo o tempo;
exige-o o próprio cargo. O Colégio, porém, embora exista sempre, nem por
isso age permanentemente com uma acção estritamente colegial,
conforme consta da Tradição da Igreja.
Por outras palavras, não está sempre «em exercício
pleno». Mais ainda: sòmente por intervalos age de uma maneira
estritamente colegial e nunca sem o consentimento da Cabeça. Diz-se,
porém, «com o consentimento da Cabeça» para que não se pense numa
dependência de pessoa por assim dizer estranha; o termo «consentimento» evoca, pelo
contrário, a comunhão entre a Cabeça. e os membros e implica a
necessidade do acto que é próprio da Cabeça. Isto é afirmado
explicitamente no número 22 e explicado no mesmo lugar. A fórmula
negativa «a não ser» compreende todos os casos, e assim é
evidente que as normas aprovadas pela Autoridade suprema devem
ser sempre observadas. Cfr. Modo 84.
Em tudo isto, é também evidente que se trata da união
dos Bispos com a sua Cabeça e nunca de uma acção dos Bispos
independentemente do Papa. Neste caso, faltando a acção da Cabeça,
os Bispos não podem agir colegial mente, como se depreende da mesma
noção de «Colégio». Esta Comunhão hierárquica de todos os Bispos com o
Sumo Pontífice é certamente habitual na Tradição.
N. B. Sem a comunhão hierárquica, o cargo
sacramental-ontológico, que se deve distinguir do aspecto
canónico-jurídico, não pode ser exercido. A Comissão, porém, julgou que
não devia entrar nas questões de liceidade e validade, que se
deixam à discussão dos teólogos, em especial no referente ao poder que
de facto se exerce entre os Orientais separados e para cuja explicação
existem várias sentenças».
Notas
1. Cfr. S. Cipriano, Epist. 64, 4: PL 3, 1017.
CSEL (Hartel), III B, p. 720. S. Hilário Píct., In Mt. 23, 6: PL 9,
1047. S. Agostinho, passim. S. Cirilo Alex., Glaph. in Gen.
2, 10: PG 69, 110 A.
2. Cfr. S. Gregório M., Hom. in Evang. 19, 1: PL
76, 1154 B. S. Agostinho, Serm. 341, 9, 11: PL 39, 1499 s. S. J.
Damasceno, Adv. Iconocl. 11: PG, 1357.
3. Cfr. S. Ireneu, Adv. Haer. III, 24, 1: PG 7,
966 B; Harvey 2, 131, ed. Sagnard, Sources Chr., p. 398.
4. S. Cipriano, De orat. Dom. 23: PL 4, 553;
Hartel, III A, p. 285. S. Agostinho, Serm. 71, 20, 33: PL 38, 463
s. S. J. Damasceno, Adv. Iconocl. 12: PG 96, 1358 D.
5. Cfr. Origenes, In Mt. 16, 21: PG 13, 1443 C;
Tertuliano, Adv. Marc. 3, 7: PL 2, 357 C; CSEL 47, 3, p. 386.
Para os documentos litúrgicos, cfr. Sacramentarium Gregorianum:
PL 78, 160 B. ou C. Mohlberg, Liber Sacramentorum romanae ecclesiae,
Roma, 1960, p.111, XC; «Deus, qui ex omni coaptacione sanctorum aeternum tibi condis habitaculum...». Hinos
Urbs Ierusalem beata em Breviário monástico, e Coelestis Urbs
Ierusalem em Breviário Romano.
6. Cfr. S. Tomás, Summa Theol. III, q. 62, a. 5,
ad 1.
7. Cfr. Pio XII, Encíclica Mystici Corporis, 29
jun. 1943: AAS 35 (1943), p. 208.
8. Cfr. Leão XIII, Carta Encicl. Divinum illud, 9
maio 1897: ASS 29 (1896-97) p. 650. Pio XII, Encíclica Mystici
Corporis, 1. c., pp. 219-220; Denz. 2288 (3808). S. Agostinho,
Serm. 268, 2: PL 38, 1232, etc. S. João Crisóstomo, In Eph.
Hom. 9, 3: PG 62, 72. Didimo Alex., Trin. 2, 1: PG 39, 449 s. S. Tomás,
In Col. 1, 18, lect. 5; ed. Marietti, II, n. 46: «Sicut constituitur unum corpus ex
unitate animae, ita Ecclesia ex unitate Spiritus...».
9. Leão XIII, Encíclica Sapientiae christianae,
10 jan. 1890: ASS 22 (1889-90) p. 392. Id., Carta Encicl. Satis
cognitum, 29 jun. 1896: ASS 28 (1895-96) pp. 710 e 724 ss. Pio XII,
Encíclica Mystici Corporis, 1. c., pp. 199-200.
10. Cfr. Pio XII, Encíclica, Mystici Corporis, 1.
c., p. 221 ss. Id., Encíclica Humani generis, 12 agosto 1950: AAS
42 (1950) p. 571.
11. Leão XIII, Carta Encícl. Satis cognitum, 1.
c., p. 713.
12. Símbolo. Apostólico: Denz. 6-9 (10-13) ; Símbolo
Nic. - Constantinopolitano: Denz. 86 (150) ; cfr. Prof. fidei Trid,:
Denz. 994 e 999 (1862 e 1868).
13. Diz-se «Igreja santa (católica, apostólica) romana»
em: Prof. fidei Trid., 1. c., e Cone. Vat. I, Const. dogm. de
fide cath.: Denz. 1782 (3001).
14. S. Agostinho, De Civ. Dei, XVIII, 51, 2: PL
41, 614.
15. Cfr. S. Cipriano, Epist. 69, 6: PL 3, 1142 B; Hartel
3 B, p. 754: «inseparabile unitatis
sacramentum».
16. Cfr. Pio XII, Aloc. Magnificate Dominum, 2
nov. 1954: AAS 46 (1954) p. 669. Encícl. Mediator Dei, 20 nov.
1947: AAS 39 (1947) p, 555.
17. Cfr. Pio XI, Encicl. Miserentissimus Redemptor,
8 maio 1928: AAS 29 (1928) p. 171 s. Pio XII, Aloc. Vous nous avez,
22 set. 1956: AAS 48 (1956) p. 714.
18. Cfr. S. Tomás, Summa Theol. III, q. 63, a. 2.
19. Cfr. S. Cirilo de Jerus. Catech. 17, de
Spiritu Santo, II, 35-37: PG 33, 1009-1012. Nic. Cabasilas, De vita
in Christo, lib. III, de utilitate chrismatis: PG 150, 569-580. S.
Tomás, Summa Theol. 111, q. 65, a. 3 e q. 72, a. 1 e 5.
20. Cfr. Pio XII, Encicl. Mediator Dei, 20 nov.
1947: AAS 39 (1947), sobretudo p. 552 s.
21. 1 Cor. 7, 7: «Unusquisque
proprium donum (idion charisma) habet ex Deo: alius quidem sie, alius
vero sic». Cfr. S. Agostinho, De Dono Persev. 14, 37: PL 45, 1015
s.: Non tantum continentia Dei donum est, sed coniugatorum atiam
castitas».
22. Cfr. S. Agostinho, De Praed. Sanct. 14, 27:
PL 44, 980.
23. Cfr. S. J. Crisóstomo, In Io. Hom. 65, 1: PG
59, 361.
24. Cfr. S. Ireneu, Adv. Haer. 111, 16, 6; III,
22, 1-3: PG 7, 925 C-926 A, e 955 C-958 A: Harvey 2, 87 s. e 120-123;
Sagnard, Ed. Sources Chrét., pp. 290-292 e 372 ss.
25. Cfr. S. Inácio M., Ad Rom., Pref.: ed. Funk,
I, p. 252.
26. Cfr. S. Agostinho, Bapt. c. Donat. V, 28, 39:
PL 43, 197: «C'erte manifestum est,
id quod dicitur, in Ecclesia intus et foris, in corde, non in corpore
cogitandum». Cfr. ib., III, 19, 26:
col. 152; V, 18, 24: col. 189; In Io. Tr. 61, 2: PL 35, 1800,
etc. etc.
27. Cfr. Lc. 12, 48: « Omni autem, cui multum datum est,
multum quaeretur ab eo». Cfr. Mt. 5,
19-20; 7, 21-22; 25, 41-46; Tg. 2,14.
28. Cfr. Leão XIII, Carta Apost. Praeclara
gratulationis, 20 jun. 1894: ASS 26 (1893-94) p. 707.
29. Cfr. Leão XIII, Carta Encícl. Satis cognitum,
29 jun. 1896: ASS 28 (1895-96) p. 738. Carta Encicl. Caritatis
studium, 25 jul. 1898: ASS 31 (1898-99) p. 11. Pio XII,
Radiomensagem Nel'alba, 24 dez. 1941: AAS 34 (1942) p. 21.
30. Cfr. Pio XI, Encicl. Rerum Orientalium, 8
set. 1928: AAS 20 (1928) p. 287. Pio XII, Encícl. Orientalis
Ecclesiae, 9 abril 1944: AAS 36 (1944) p. 137.
31. Cfr. Instr. do Santo Oficio, 20 dez. 1949: AAS 42
(1950) p. 142.
32. Cfr. S. Tomás, Summa Theol. III, q. 8, a. 3,
ad 1.
33. Cfr. Carta do S. Oficio ao Arcebispo de Boston:
Denz. 3869-72.
34. Cfr. Eusébio Ces., Praeparatio Evangelica, 1,
1: PG 21, 28 AB.
35. Cfr. Bento XV, Carta Apost. Maximum Illud:
AAS 11 (1919) p. 440, sobretudo p. 451 ss. Pio XI, Encícl, Rerum
Ecclesiae: AAS 18 (1926) p. 68-69. Pio XII, Encicl. Fidei Donum,
21 abr. 1957: AAS 49 (1957) pp. 236-237.
36. Cfr. Didachè, 14: ed. Funk, I, p. 32. S.
Justino, Dial. 41: PG 6, 564. Ireneu, Adv. Haer. IV, 17,
5: PG 7, 1023; Harvey, 2, p. 199 s. Conc. Trid., Sess. 22, cap. 1; Denz.
939 (1742).
37. Cfr. Conc. Vat. I, Const. Dogm. Pastor aeternus:
Denz. 1821 (3050 s.).
38. Cfr. Cone. Flo., Decretum pro Graecis: Denz.
694 (1307) e Conc. Vat. I, ib.: Denz. 1826 (3059).
39. Cfr. Liber sacramentorum de S. Gregório,
Praefatio in natali S. Matthiae et S. Thomae: PL 78, 50, 51 e 152; cfr.
Cod. Vat. lat. 3548, f. 18. S. Hilário, In Ps. 67, 10: PL 9, 450; CSEL
22, p. 286. S. Jerónimo, Adv. Iovin. 1, 26: PL 23, 247 A. S. Agostinho,
In Ps. 86, 4: PL 37, 1103. S. Gregório M., Mor. in lob, XXVIII, V:. PL
76, 455-456. Primásio, Comm in Apoc. V.: PL 68, 924 BC. Pascãsio Radb.,
In Matth. L. VIII, cap. 16: PL 120, 561 C. Cfr. Leão XIII, Carta Et
sane,17 dez. 1888: ASS 21 (1888) p. 321.
40. Cfr. Act, 6, 2-6; 11,30; 13,1; 14,23; 20,17; 1 Tess.
5, 12-13; F11. 1,1; Col. 4,11, etc. etc.
41. Cfr. Act. 20, 25-27; 2 Tim. 4,6 s. coll. 1 Tim.
5,22; 2 Tim. 2,2; Tit. 1,5; S. Clem. Rom., Ad Cor. 44,3; ed.
Funk, I, p. 156.
42. S. Clem. Rom. Ad Cor. 44,2; ed. Funk, I, p.
154 s.
43. Cfr. Tertuliano, Praescr. Haer. 32: PL 2, 52
s.; S. Inácio M., passim.
44. Cfr. Tertuliano, Praescr. Haer. 32: PL 2, 53.
45. Cfr. S. Ireneu. Adv. Haer. III, 3, 1: PG 7,
848 A; Harvey 2,8; Sagnard, p. 100 s.: «manifestatam».
46. Cfr. S. Ireneu, Adv. Haer, III, 2, 2: PG 7,
847; Harvey 2,7; Sagnard, p. 100: « custoditur>>, cfr. ib. IV, 26,2:
col. 1053; Harvey 2, 236, e IV, 33,8: co1..1077; Harvey 2,262.
47. S. Inácio M., Philad., Praef., ed. Funk, I,
p. 264.
48. S. Inácio M., Philad, 1,1; Magn. 6,1; ed. Funk, I,
pp. 264 e 234.
49. S. Clem. Rom., 1. c., 42, 3-4; 44, 3-4; 57, 1-2; ed.
Funk, I, 152, 156, 171 s. S. Inácio M. Philad. 2; Smyrn.
8; Magn. 3; Trall, 7; ed. Funk, p. 265 s.; 282, 232; 246
s. etc.; S. Justino, Apol., 1, 65: PG 6, 428; S. Cipriano,
Epist. passim.
50. Cfr. Leão XIII, Carta Encícl. Satis cognitum,
29 jun. 1896: ASS 28 (1895-96) p. 732.
51. Cfr. Conc. Trid., Decr. de sacr. Ordinis,
cap. 4: Denz. 960 (1768); Cone. Vat. I, Pastor aeternus, Const.
Dogm. 1 De Ecclesia Christi, cap. 3: Denz. 1828 (3061). Pio XII,
Encícl. Mystici Corporis, 29 jun. 1943: AAS 35 (1943) pp. 209 e
212. Cod. Iur. Can., c. 329 § 1.
52. Cfr. Leão XIII, Carta Et sane, 17 dez. 1888:
ASS 21 (1888), p. 321 s.
53. S. Leão M., Serm. 5, 3: PL. 54, 154.
54. Cone. Trid., Sess. 23, cap. 3 cita as palavras de 2
Tim. 1, 6-7, para provar que a ordem é um verdadeiro sacramento: Denz.
959 (1766).
55. Em Trad. Apost. 3, ed. Botte, Sources Chr.,
pp. 27-30, dá-se ao Bispo o «primado do sacerdócio».
Cfr. Sacramentarium Leonianum, ed. C. Mohlberg, Sacramentarium
Veronense, Roma, 1955, p. 119: «ad summi sacerdotii...
ministerium... Comple in sacerdotibus tuis mysterii tui summam»...
Id. Liber Sacramentorum Romanae Ecclesiae, Roma, 1960, pp.
121-122: «Tribuas eis, Domine,
cathedram episcopalem ad regendam Ecelesiam tuam et plebem universam».
Cfr. PL 78, 224.
56. Trad. Apost. 2, ed. Botte, p. 27.
57. Conc. Trid., Sess. 23, cap. 4, ensina que o
sacramento da Ordem imprime carácter indelével: Denz. 960 (1767). Cfr.
João XXIII, Aloc. Iubilate Deo, 8 maio 1960: AAS 52 (1960) p.
466. Paulo VI, Homilia na Bas. Vaticana, 20 out. 1963: AAS 55 (1963) p.
1014.
58. S. Cipriano, Epist. 63, 14: PL 4, 386;
Hartel, III B. p. 713: «Sacerdos vice Christi vere fungitur».
S. João Crisóstomo In 2 Tim. Hom. 2. 4: PG 62, 612: sacerdos est
«symbolon»
Christi. S. Ambrósio, In Ps. 38, 25-26: PL 14, 1051-52: CSEL 64,
203-204. Ambrosiaster, In 1 Tim. 5, 19: PL 17, 479 C e In Eph.
4, 11-12: col. 387 C. Teodoro Mops., Hom. Catech. XV, 21 e 24:
ed. Tonneau, pp. 497 e 503. Hesiquio de Jerus., In Lev. L. 2, 9,
23: PG 93, 894 B.
59. Cfr. Eusébio, Hist. Eccl., V, 24, 10: GCS II,
1, p. 495; ed. Bardy, Sources Chr. II, p. 69. Dionisio, em
Eusébio, ib. VII, 5, 2: GCS II, p. 638 s.; Bardy, II, p. 168 s.
60. Acerca dos antigos Concílios, cfr. Eusébio Hist.
Eccl. V, 23-24: GCS II, 1, p. 488 s.; Bardy, II, p. 66 ss. etc.
Conc. Niceia, can. 5: Conc. Oec. Decr. p. 7.
61. Tertuliano, De Ieiunio, 13: PL 2, 972 B; CSEL
20, p. 292, lin. 13-16.
62. S. Cipriano, Epist. 56, 3: Hartel III B, p.
650; Bayard, p. 154.
63. Cfr. Relação oficial de Zinelli, no Conc. Vat. I:
Mansi 52, 1109 C.
64. Cfr. Conc. Vat. I, Esquema da Const. dogm. II, de
Ecclesia Christi, c. 4: Mansi 53, 310. Cfr. Relação de Kleutgen
sobre o Esquema reformado: Mansi 53, 321 B-322 B e declaração de
Zinelli: Mansi 52, 1110 A. Cfr. também S. Leão M., Serm. 4, 3: PL
151 A.
65. Cfr. Cod. Iur. Can., c. 222 e 227.
66. Cfr. Conc. Vat. I, Const. Dogm. Pastor aeternus:
Denz. 1821 (3050 s.).
67. Cfr. S. Cipriano, Epist. 66, 8: Hartel III,
2, p. 733: «Episcopus in Ecclesia et Ecclesia In Episcopo».
68. Cfr. S. Cipriano, Epist. 55, 24: Hartel, p.
642, lin. 13: «Una Ecclesia per
totum mundum in multa membra divisa».
Epist. 36, 4: Hartel, p. 575, lin. 29-21.
69. Cfr. Pio XII, Encícl.
Fidei Donum, 21 de abr. 1957: AAS 49 (1957) p. 237.
70. Cfr. S. Hilário Pict., In Ps. 14, 3: PL 9,
206; CSEL 22, p. 86. S. Gregório M., Moral. IV, 7, 12: PL 75, 643
C. Ps.-Basilio, In Is. 15, 296: PG 30, 637 C.
71. Cfr. S, Celestino, Epist. 18, 1-2, ao Conc.
de Éfeso: PL 50, 505 AB; Schwartz, Acta Conc. Oec. I, 1, 1, p. 22. Cfr.
Bento XV, Carta Apost. Maximum illud: AAS 11 (1919) p. 440. Pio
XI, Encicl. Rerum Ecclesiae, 28 fev. 1926: AAS 18 (1926) p. 69.
Pio XII, Encícl. Fidei Donum, 1. c.
72. Leão XIII, Encícl. Grande munus, 30 set.
1880: AAS 13- (1880) p. 145. Cfr. Cod. Iur. Can., c. 1327; c.
1350 § 2.
73. Acerca dos direitos das Sés patriarcais, cfr. Conc.
Nicaenum, can. 6 sobre Alexandria e Antioquia, e can. 7 sobre Jerusalém:
Conc. Oec. Decr., p. 8. Conc. Later. IV, em 1215, Constit. V: De
dignitate Patriarcharum: ibid. p. 212 - Conc. Ferr. - ibid. p. 504.
74. Cfr. Cod. Iuris Can. pro Eccl. Orient., c.
216-314: de Patriarchis; c. 324-339: de Archiepiscopis maioribus;
c. 362-391: de aliis dignitariis; In. specie, c. 238 § 3, 216;
240 251; 255: de Episcopis a Patriarcha nominandis.
75. Cfr. Conc. Trid., Decr. de reform., Sess. V, c. 2,
n, 9; e Sess. XXIV, can. 4: Conc. Oec. Decr. pp. 645 e 739.
76. Cfr. Conc. Vat. I, Const. dogm. Dei Filius,
3: Denz. 1,712 (3011). Cfr. nota junta ao esquema I de Eccl.
(tirada de S. Rob. Belarmino): Mansi 51, 579 C; e o Esquema reformado da
Const. II de Ecclesia, com o comentário de Kleutgen: Mansi 53,
313 AB. Pio IX, Carta Tuas libenter: Denz. 1683 (2879).
77. Cfr. Cod. Iur. Can., c. 1322-1323.
78. Cfr. Conc. Vat. I, Const. dogm. Pastor Aeternus:
Denz. 1389 (3074).
79 Cfr. explicação de Gasser em Conc. Vat. I: Mansi 52,
1213 AC.
80. Gasser, ib.: Mansi 1214 A.
81. Gasser, ib.: Mansi 1215 CD, 1216-1217 A.
82. Gasser, ib.: Mansi 1213.
83. Conc. Vat. I, Const. dogm. Pastor Aeternus,
4: Denz. 1836 (3070).
84. Oração da sagração episcopal no rito bizantino:
Euchologion to mega, Roma, 1873, p. 139.
85. Cfr. S. Inácio M., Smyrn. 8, 1: ed. Funk, I,
p. 282.
86. Cfr. Act. 8,1; 14, 22-23; 20, 17, etc., etc.
87. Oração moçárabe: PL 96, 759 B.
88. Cfr. S. Inácio M., Smyrn. 8, 1: ed. Funk, I,
p. 282.
89. S. Tomás, Summa Theol. III, q. 73, a. 3.
90. Cfr. S. Agostinho, C. Faustum, 12, 20: PL 42, 265;
Serm. 57, 7: PL 38, 389, etc.
91. S. Leão M., Sermo 63,7: PL 54, 357 C.
92. Traditio Apostolica Hippolyti, 2-3: ed.
Botte, pp. 26-30.
93. Cfr. texto do exame no inicio da sagração
episcopal, e oração no fim da missa da mesma sagração, depois do
Te Deum.
94. Bento XV, Breve Romana Ecclesia, 5 out. 1752,
§ 1: Bullarium Benedicti XIV, t. IV, Roma, 1758, 21:
«Episcopus Christi typum gerit,
Eiusque munere fungitur». Pio XII,
Encicl. Mystici Corporis, 1. c., p. 211:
«Assignatos sibi greges singuli
singulos Chrísti nomine pascunt et regunt».
95. Leão XIII, Carta Encicl. Satis cognitum, 29
jun. 1896: ASS 28 (1895-96) P. 732. Idem, Carta Officio sanctissimo,
22 dez. 1887: ASS 20 (1887) p. 264. Pio IX, Carta Apost. aos Bispos
alemães, 12 março 1875, e Aloc. Consist., 15 março 1875: Denz.
3112-3117, só na nova ed.
96. Conc. Vat. I, Const. dogma Pastor aeternus,
3: Denz. 1828 (3061). Cfr. Relação de Zinelli: Mansi 52, 1114 D
97. Cfr. S. Inácio M., Ad Ephes. 5, 1: ed. Funk,
1, p. 216.
98. Cfr. S. Inácio M., Ad Ephes, 6, 1: ed. Funk,
I, p. 216.
99. Cfr. Conc. Trid. De sacr. Ordinis, cap. 2:
Denz. 958 (1765), e can. 6: Denz. 966 (1776).
100. Cfr. Inocêncio I, Epist. ad Decentium: PL
20, 554 A; Mansi 3, 1029; Denz. 98 (215) : «Presbyteri, licet secundi
sint sacerdotes, pontificatus tamen apicem ron habent».
S. Cipriano, Epist. 61, 3: ed. Hartel, p. 696.
101. Cfr. Conc. Trid., 1. c., Denz. 956a-968
(1763-1778), e em especial can. 7: Denz. 967 (1777). Pio XII, Const.
Apost. Sacramentum Ordinis: Denz. 2301 (3857-61).
102. Cfr. Inocêncio I, 1. c.; S. Gregório Naz., Apol.
II, 22: PG 35, 432 B. Ps.-Dionísio, Eccl. Hier., 1, 2: PG 3, 372
D.
103. Cfr. Conc. Trid., Sess. 22: Denz. 940 (1743). Pio
XII, Encícl. Mediator Dei, 20 nov. 1947: AAS 39 (1947) p. 553;
Denz. 2300 (3850).
104. Cfr. Conc. Trid. Sess. 22: Denz. 938 (1739-40).
Conc. Vat. II, Const. De Sacra Liturgia, Sacrosanctum Concilium,
n. 7 e n. 47.
105. Cfr. Pio XII, Encícl. Mediator Dei, 1. c. n.
67.
106. Cfr. S. Cipriano, Epist. 11, 3: PL 3, 242 B:
Hartel, II, 2, p. 497.
107. Cfr. Pontificale romanum, De Ordinatione
presbyterorum, na imposição das vestes.
108. Cfr. Pontificale romanum, De Ordinatione
presbyterorum, no prefácio.
109. Cfr. S. Inácio M., Philad. 4: ed. Funk, I,
p. 266. S. Cornélio I, em S. Cipriano, Epist. 48, 2: Hartel III,
2, p. 610.
110. Constitutiones Ecclesiae aegyptiacae, III,
2: ed. Funk, Didascalia, II, p. 103. Statuta Eccl. Ant.
31-41: Mansi 3, 954. 75 S. Policarpo, Ad Phil. 5, 2: ed. Funk, p.
300: Cristo é chamado «omnium diaconus factus».
Cfr. Didachè, 15, 1: ib., p. 32; S. Inácio M., Trall. 2,
3: ib., p. 242. Constitutiones Apostolorum, 8, 28, 4: ed. Funk,
Didascalia, I, p. 530.
111. S. Agostinho, Serm. 340, 1: PL 38, 1483.
112. Cfr. Pio XI, Encícl. Quadragesimo anno, 15
maio 1931: AAS 23 (1931) p. 221 s. Pio XII, Aloc. De quelle
consolation, 14 out. 1951: AAS 43 (1951) p. 790 s.
113. Cfr. Pio XII, Aloc. Six ans se sont écoulés,
5 out. 1957: AAS 49 (1957) p. 927.
114. Cfr. Missale romanum, Prefácio da festa de
Cristo Rei.
115. Cfr. Leão XIII, Carta Encícl. Immortale Dei,
1 nov. 1855: ASS 18 (1885), p. 166 ss. Idem, Encícl. Sapientia
christianae, 10 jan. 1890: ASS 22 (1889-90) p. 397 ss. Pio XII,
Aloc. Alla vostra filiale, 23 março 1958: AAS 50 (1958) p. 220:
«la légittima sana laicità dello
Stato».
116. Cfr. Cod. Iur. Can. can. 682.
117. Cfr. Pio XII, Aloc. De quelle consolation,
I. c., p. 789: «Dans les batailles
décisives, c'est parfois du front que partent les plus heureuses
iniciativas...» Idem, Aloc. L'Importance de Ia presse catholique,
17 fev. 1950: AAS 42 (1950) p. 256.
118. Cfr. 1 Tess. 5,19 e 1 Io. 4,1.
119. Epist. ad Diognetum, 6: ed. Funk I, p. 400.
Cfr. S. João Crisóstomo, In Matth. Hom. 46 (47),2: PG 58, 478,
acerca do fermento na massa.
120. Missale Romanum, Gloria in excelsis. Cfr.
Lc. 1,35; Mc, 1,24; Lc. 4,34; Io. 6,69 (ho hagios tou Theou); Act. 3,14;
4,27 e 30; Hebr. 7,26; 1 Io. 2,20: Apoc. 3,7.
121. Cfr. Orígenes, Comm Rom. 7, 7: PG 14, 1122
B. Ps. - Macário, De Oratione, 11: PG 34, 861 AB. S. Tomás, Summa
Theol. II-II q. 184, a. 3.
122. Cfr. S. Agostinho, Retract. II, 18: PL 32,
637 s. Pio XII, Encícl. Mystici Corporis, 29 jun. 1943: AAS 35
(1943) p. 225.
123. Cfr. Pio XI, Encícl. Rerum omnium, 26 jan.
1923: AAS 15 (1923) p. 50 e pp. 59-60. Encicl. Casti Connubii, 31
dez. 1930: AAS 22 (1930) p. 548. Pio XII, Const. Apost. Provida Mater,
2 fev. 1947: AAS 39 (1947) p. 117. Aloc. Annus sacer, 8 dez.
1950: AAS 43 (1951) pp. 27-28. Aloc. Nel darvi, 1 jul. 1956: AAS
48 (1956) p. 574 s.
124. Cfr. S. Tomás, Summa Theol. II-II, q. 184,
a. 5 e 6. De perf. vitae spir. c. 18; Orígenes, In Is.
Hom. 6, 1: PG 13, 239.
125. Cfr. S. Inácio M., Magn. 13, 1: ed. Funk, I,
p. 241.
126. Cfr. S. Pio X, Exort. Haerent animo, 4 ago.
1908: ASS 41 (1908) p. 560 s. Cod. Iur. Can., can. 124. Pio XI,
Encicl. Ad catholici sacerdotii, 20 dez. 1935: AAS 28 (1936) p.
22 s.
127. Cfr. Pontificale romanum, De Ordinatione
presbyterorum, na exortação inicial.
128. Cfr. S. Inácio M., Trall. 2, 3: ed. Funk, p. 244.
129. Cfr. Pio XII, Aloc. Sous Ia maternelle
protection, 9 dez. 1957: AAS 50 (1958) p. 36.
130. Pio XI, Encicl. Casti Connubii, 31 dez.
1930: AAS 22 (1930) p. 548 s. S. João Crisóstomo, In Ephes. Hom.
20, 2: PG 62, 136 ss.
131. Cfr. S. Agostinho, Enchir. 121, 32: PL 40,
288. S. Tomás, Summa Theol. II-II, q. 184, a. 1. Pio XII, Exort.
Apost. Menti nostrae, 23 set. 1950: AAS 42 (1950) p. 660.
132. Acerca dos conselhos em geral, cfr. Orígenes,
Comm. Rom. X, 14: PG 14, 1275 B. S. Agostinho De S. Virginitate,
15, 15: PL 40, 403. S. Tomás, Summa Theol. I-II, q. 100, a. 2 C.
(no fim); I-II, q. 44, a. 4, ad 3.
133. Acerca da superioridade da sagrada virgindade, cfr.
Tertuliano, Exhort. Cast. 10: PL 2, 925 C. S. Cipriano, Hab.
Virg. 3 e 22: PL 4, 433 B e 461 A s. S. Atanásio, De Virg.:
PG 28, 252, ss. S. João Crisóstomo, De Virg.: PG 48, 533 ss.
134. Sobre a pobreza espiritual, cfr. Mt. 5,3 e 19-21;
Mc. 10,21; Lc. 18,22; sobre a obediência, aduz o exemplo de Cristo Jo.
4,34 e 6,38; Fil. 2, 8-10; Hebr. 10, 5-7. Os Padres e fundadores de
Ordens abundam em referências.
135. Acerca da prática efectiva dos conselhos, que não
se impõe a todos, cfr. S. João Crisóstomo, In Matth. Hom. 7, 7:
PG 57, 81 s. S. Ambrósio, De Viduis, 4, 23: PL 16, 241 s.
136. Cfr. Rosweydus, Vitae Patrum, Anvers, 1628,
Apophtegmata Patrum: PG 65. Paladius, Historia Lausiaca:
PG 34, 995 ss.: ed. Butler, Cambridge 1898 (1904). Pio XI, Const. Apost.
Umbratilem, 8 jul. 1924: AAS 16 (1924) pp. 386-387. Pio XII,
Aloc. Nous sommes heureux, 11 abr. 1958:. AAS 50 (1958) p. 283.
137. Cfr. Paulo VI, Aloc. Magno gaudio, 23 maio
1964: AAS 56 (1964), p. 566.
138. Cfr. Cod. Iur. Can., e. 487 e 488, 4.°; Pio
XII, Aloc. Annus sacer, 8 dez. 1950: AAS 43 (1951) p. 27 s.; Pio
XII, Const. Apost. Provida Mater, 2. fev. 1947: AAS 39 (1947) p.
120 ss.
139. Cfr. Paulo VI, 1. c., p. 567.
140. Cfr. S. Tomás, Summa Theol. II-II, q, 184,
a. 3 e q. 188, a. 2. S. Boaventura, Opusc. XI, Apologia Pauperum,
e. 3, 3: ed. Opera, Quaracchi, 1898, t. 8, p. 245 a.
141. Cfr. Cone. Vat. I, Esquema De Ecclesia Christi,
cap. XV, e Adnot. 48: Mansi 51, 549 s. e 619 s. - Leão XIII, Carta Au
milieu des consolations, 23 dez. 1900: ASS 33 (1900-01) p. 361. Pio
XII, Const. Apost. Provida Mater, l. c., p. 114 s.
142. Cfr. Leão XIII, Const. Romanos Pontifices, 8
maio 1881: ASS 13 (1880-81) p. 483. Pio XII, Aloc. Annus sacer, 8
dez. 1950: AAS 43 (1951) p. 28 s.
143. Cfr. Pio XII, Aloc. Annus sacer, 1. c., p,
28. Pio XII, Const. Apost. Sedes Sapientiae, 31 maio 1956: AAS 48
(1956) p. 355. Paulo VI, Aloc. Magno gaudio, 23 maio 1964: AAS 56
(1964), p. 570-571.
144. Cfr. Pio XII, Encícl. Mystici Corporis, 29
jun. 1943: AAS 35 (1943) p. 214 s.
145. Cfr. Pio XII, Aloc. Annus sacer, 1. c., p.
30. Aloc. Sous Ia maternelle protection, 9 dez. 1957: AAS 50
(1958) p. 39 s.
146. Conc. Florentino, Decretum pro Graecis:
Denz. 693 (1305).
147. Além de documentos mais antigos contra qualquer
forma de evocação dos espíritos a partir de Alexandre IV (27 set. 1258),
efr. Carta do Santo Oficio, De magnetismi abusu, 4 ago. 1856: ASS (1865)
pp. 177-178; Denz. 1653-1654 (2823-2825); resposta do Santo Ofício, 24
abr. 1917: AAS 9 (1917) p. 268; Denz. 2182 (3642).
148. Veja-se a exposição sintética desta doutrina
paulina em: Pio XII Encícl. Mystici Corporis: AAS 35 (1943) p.
200, etc., etc.
149. Cfr. S. Agostinho, Enar. in Ps. 85, 24: PL
37, 1099. S. Jerónimo, Liber contra Vigilantium, 6: PL 23, 344.
S. Tomás, In 4m Sent., d. 45, q. 3, a. 2. S. Boaventura, In 4m
Sent., d. 45, a. 3 q. 2; etc.
150. Cfr. Pio XII, Encícl. Mystici Corporis: AAS
35 (1943) p. 245.
151. Cfr. muitas inscrições nas catacumbas romanas.
152. Cfr. Gelásio I, Decretal De libris recipendis,
3: PL 59, 160, Denz. 165 (353).
153. Cfr. S. Método, Symposion, VII, 3: GCS
(Bonwetsch), 74.
154. Cfr. Bento XV, Decretum approbationis virtutum
in Causa beatificationis e canonizationis Servi Dei Ioannis Nepomuceni
Neumann: AAS 14 (1922) p. 23; Várias alocuções de Pio XI sobre os
Santos: Inviti All'eroismo, em Discorsi e Radiomessaggi t. I-III, Roma,
1941-1942, passim; Pio XII, Discorsi e Radiomessaggi, t. 10, 1949, pp.
37-43.
155. Cfr. Pio XII, Encícl. Mediator Dei: AAS 39
(1947) p. 581.
156. Cfr. Hebr. 13,7; Eccli. 44-50; Hebd. 11, 3-40. Cfr.
também Pio XII, Encícl. Mediator Dei: AAS 39 (1947) pp. 582-583.
157. Cfr. Conc. Vaticino I, Const. De fide catholica,
cap. 3: Denz. 1794 (3013).
158. Cfr. Pio XII, Encícl. Mystici Corporis: AAS
35 (1943) p. 216.
159. "Quanto à gratidão para com os próprios Santos,
cfr. E. Diehl, Inscriptiones latinae christianae veteres, I,
Berlim, 1925, nn. 2008, 2382, etc. etc.
160. Conc. Tridentino, Decr. De invocatione...
Sanctorum: Denz. 984 (1821).
161. Breviarium Romanum, Invitatorium in festo
Sanctorum Omnium.
162. Cfr. v. g. 2 Tess. 1,10.
163. Conc. Vaticano II, Const. De Sacra Liturgia,
Sacrosanctum Concilium, cap. 5, n. 104: AAS 56 (1964) p. 125-126.
164. Cfr. Missale Romanum, cânon da missa.
165. Conc. Niceno II, Act. VII: Denz. 302 (600).
166. Conc. Florentino, Decretum pro Graecis:
Denz. 693 (1304).
167. Conc. Tridentino, Decr. De invocatione,
veneratione et reliquiis Sanctorum et sacris imaginibus: Denz. 983
(1820); Decretum de iustificatione, can. 30: Denz. 840 (1580).
168. Missale Romanum, Prefácio dos Santos concedido a
algumas dioceses de França.
169. Cfr. S. Pedro Canisio, Catechismus Maior seu
Summa Doctrinae christianae, cap. III (ed. crit. F. Streicher) parte
I, pp. 15-16, n. 44 e pp. 100-101, n. 49.
170. Cfr. Conc. Vaticano II, Const. De Sacra Liturgia,
Sacrosanctum Concilium, cap. 1, n. 8: AAS 56 (1964), p. 401.
171. Símbolo Constantinopolitano: Mansi 3, 566. Cfr.
Conc. Efesino, 1b. 4, 1130 (íb. 2, 665 e 4, 1071); Conc. Calcedonense,
ib. 7, 111-116; Conc. Constantinopolitano II, ib. 9, 375-396 Missale
Romanum, Credo.
172. Missale Romanum, cânon.
173. S. Agostinho, De S. Virginitate, 6: PL 40,
399.
174.. Cfr. Paulo VI, Alocução no Concílio, no dia 4 dez.
1963: AAS 56 (1964) p. 37.
175. Cfr. S. Germano Const., Hom in Annunt. Deiparae:
PG 98, 328 A; In Dorm. 2: col. 357.-Anastácio Antioq., Serm. 2
de Annunt., 2: PG 89, 1377 AB; Serm. 3, 2: col. 1388: C. - S. André
Cret., Can. in B. V. Nat. 4: PG 97, 1321 B. In B. V. Nat.,
1: col. 812 A. Hom. in dorm. 1: col. 1086 C. - S. Sofrónio,
Or. 2 in Annunt., 18: PG' 87 (3), 3237 BD.
176. S. Ireneu, Adv. Haer. III, 22, 4: PG 7, 959
A; Harvey, 2, 123.
177. S. Ireneu, ib.; Harvey, 2, 124.
178. S. Epináfio, Haer. 78, 18: PG 42, 728 CD -
729 AB.
179. S. Jerónimo, Epist. 22, 21: PL, 22, 408.
Cfr. S. Agostinho, Serm. 51, 2, 3: PL 38, 335; Serm. 232,
2: col. 1108. -S. Cirilo de Jerusalém, Catech. 12, 15: PG 33, 741
AB. - S. João Crisóstomo, In Ps. 44, 7: PG 55, 193. - S. João
Damasceno, Hom. 2 in dorm. B. M. V., 3: PG 96, 728.
180. Cfr. Conc. Lateranense em 649, can. 3: Mansi 10,
1151. S. Leão M., Epist. ad. Flav.: PL 54, 759. - Conc.
Calcedonense: Mansi 7, 462. - S. Ambrósio, De instit. virg.: PL
16, 320.
181. Cfr. Pio XII, Encícl. Mystici Corporis, 29
jun. 1943: AAS 35 (1943) pp. 247-248.
182. Cfr. Pio IX, Bula Ineffabilis, 8 dez. 1854:
Acta Pii IX, 1, I. p. 616, Denz. 1641 (2803).
183. Cfr. Pio XII, Const. Apost. Munificentissimus,
1 nov. 1950: AAS 42 (1950); Denz. 2333 (3903). Cfr. S. João Damasceno,
Enc. in dorm. Dei genetricis, Hom. 2 e 3: PG 96, 721-761,
sobretudo col. 728 B. -S. Germano Constantinop., In S. Dei gen. dorm.
Serm. 1: PG 98 (6) ; 340-348; Serm. 3: cola 361. -S. Modesto de
Jerus. In dorm. SS. Deiparae: PG 86 (2), 3277-3312.
184. Cfr. Pio XII, Encicl. Ad coeli Reginam, 11
out. 1954: AAS 46 (1954), pp. 633-636; Denz. Denz. 3913 ss. S. André
Cret., Hom. 3 in dorm. SS. Deiparae: PG 97, 1089-1109. -S. João
Damasceno, De lide orth., IV, 14: PG 94, 1153-1161.
185. Cfr. Kleugten, texto reformado De mysterio
Verbi incarnati, cap. IV: Mansi 53, 290. Cfr. S. André Cret., In
nat. Mariae serm. 4: PG 97, 865 A. S. Germano de Constantin., In
ann. Deiparae: PG 98, 321 BC; In dorm, Deiparae, III: col.
361 D.-S. João Damasceno, In dorm. B. V. Mariae, Hom. 1, 8: PG
96, 712 BC-713 A.
186. Cfr. Leão XIII, Encícl. Adiutricem populi, 5
set. 1895: ASS 15 (1896-96) p. 303. -S. Pio X Enciel. Ad diem illum,
2 fev. 1904: Acta, 1, p. 154; Denz. 1978 a (3370). - Piq XI, Encícl.
Miserentissimus, 8 maio 1928: AAS 20 (1928) p. 178. Pio XII,
Radiomensagem 13 maio 1946: AAS 38 (1946) p. 266.
187. S. Ambrósio, Epist. 63: PL 16, 1218.
188. S. Ambrósio, Expos. U. II, 7: PL 15, 1555.
189. Cfr. Ps. - Pedro Dam., Serm. 63: PL 144, 861
AB.-Godofredo de S. Victor. In nat. B. M., Ms. Paris, Mazarine,
1002, fol. 109 r. - Gerhohus Reich, De gloria et honore Filii hominis,
10: PL 194, 1105 AB.
190. S. Ambrósio, Expos. Lc. II, 7 e X, 24-25: PL
15, 1555 e 1810. S. Agostinho, In Io. Tr. 13, 12: PL 35, 1499.
Cfr. Serm. 191, 2, 3: PL 38, 1010; etc. Cfr. também Ven. Beda,
In Lc. Expos. I, cap. 2: PL 92, 330. - Isaac de Stella, Serm.
31: PL 194, 1863 A.
191. Cfr. Breviarium Romanum, anta
«Sub tuum praesidium», das primeiras
Vésperas do Oficio menor de Nossa Senhora.
192. Cfr. Conc. Niceno II, em 787: Mansi 13, 378-379:
Denz. 302 (600-601) ; Conc. Trident., sess. 25: Mansi 33, 171-172.
193. Cfr. Pio XII, Radiomensagem, 24, out. 1954:
AAS 46 (1954) p. 679. Encícl. Ad coeli Reginam, 11 out. 1954: AAS
46 (1954) p. 637.
194. Cfr. Pio XI, Encícl. Ecclesiam Dei, 12 nov.
1923: AAS 15 (1923) p. 581. - Pio XII, Encícl. Fulgens corona, 8
set. 1953: AAS 45 (1953) pp. 590-591.
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